Maria de Fátima Ferreira, de 57 anos (parecia bem menos), olhos amendoados, cabeleira farta e anelada, secretária aposentada, morava no centro de Belo Horizonte, na rua da Bahia. Era solteira, vivia para os outros e gostava de abraçar árvores. Na manhã do dia 12 de janeiro, aproveitando a estiagem, ela acordou cedo e foi caminhar no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, o maior e mais bonito da capital mineira, encravado no centro da cidade. Morreu esmagada na queda de um jatobá de 30 metros, apodrecido por cupins.
Como não portava documentos, seu corpo foi colocado numa gaveta do IML destinada aos mortos não identificados. Um irmão dela, José Carlos, soube que havia um corpo no necrotério com uma rosa tatuada no ombro direito, uma borboleta na perna e um coração nas costas. Era Maria de Fátima, ele teve certeza.
Um dia depois do acidente, ainda que o diretor do parque, Homero Brasil, tenha classificado o caso como “fatalidade”, a Prefeitura de Belo Horizonte decidiu interditar o local. Descobre-se agora depois de uma tardia vistoria que, das 3.562 árvores do parque, 325 estão condenadas, a maioria tomada por cupins. Terão de ser sacrificadas. Não serão mais abraçadas por gente como Maria de Fátima.
Ela foi sepultada no Cemitério Bosque da Esperança.