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Blindado por Andrea Neves durante três décadas, Aécio se desmancha no ar (e leva a irmã junto)

acio212Leia aqui meu artigo publicado em The Intercept sobre o poderoso esquema de Andrea Neves que, com mão de ferro, sangue e culpe, fez Aécio Neves ser retratado como o mocinho da fita durante três décadas.

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Seis meses separam o impeachment “moralizador” do caso Temer-Geddel: como chegamos até aqui?

Neste artigo, publicado no Intercept, tento explicar como o Brasil se tornou um novelão de mau gosto.

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Uai, parece piada: Aécio denuncia guerra suja na internet

Aécio Neves: piada pronta

E o estilingue disse: “Eu sou é vidraça”

Dois anos atrás, publiquei neste blog uma série de posts denunciando o esquema profissional (e gigante$co) que buscava massacrar na internet aqueles que ousavam criticar ou mesmo pensar diferente do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Eu mesmo fora vítima desse esquema.

(Para quem não viu a série, leia aqui o último post, com link para os demais).

Hoje, em seu artigo semanal na Folha de S.Paulo, Aécio denuncia a “indústria subterrânea voltada a disseminar calúnias e a tentar destruir reputações” na internet.

Parece piada, uai!

Fala Aécio: “Infelizmente, sob os novos horizontes tornados reais, existe um campo cinzento onde se instalou, no Brasil, um verdadeiro exército especializado em disseminar mentiras e agressões”.

Parece piada, uai!

Fala Aécio: “Fingindo espontaneidade, perfis falsos inundam as áreas de comentários de sites e blogs com palavras-chaves previamente definidas”.

Parece piada, uai!

Fala Aécio: “Robôs são usados para induzir pesquisas com o claro objetivo de manipular os sistemas de busca de conteúdo”.

Parece piada, uai!

Fala Aécio: “Calúnias são disparadas de forma planejada e replicadas exaustivamente, com a pretensão de parecerem naturais”.

Parece piada, uai!

Fala Aécio: “Absurdas acusações que jamais serão comprovadas, por serem falsas, são postadas e repostadas diariamente. A vítima pode ser um magistrado, um político ou um cidadão comum. Pode ser um jornalista, uma atriz, não importa”.

Parece piada, uai!

Fala Aécio: “Os objetivos são constranger, forjar suspeições, levantar dúvidas, transformar em verdade a mentira repetida mil vezes”.

Parece piada, uai!

Fala Aécio: “O mais grave é que esse roteiro se repete para buscar desconstruir a imagem de qualquer um que ouse defender ideias divergentes dos interesses daqueles que mantêm plugada essa verdadeira quadrilha virtual”.

Parece piada, uai!

Fala Aécio: “Esse tipo de ação covarde é um lado da moeda que, na outra face, tenta controlar a imprensa, impedir a formação de novos partidos, defender a remoção do direito de investigação do Ministério Público e a submissão das decisões do STF à maioria governista no Congresso Nacional”.

É piada mesmo.

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Folha desmonta marketing de Aécio na Folha

Aécio valoriza a educação. Aécio valoriza a educação?

Começo a achar que o senador Aécio Neves não fez um bom negócio ao aceitar o convite para escrever às segundas-feiras na página 2 da Folha de S.Paulo. Por um lado, trata-se de um espaço nobre, de grande visibilidade, uma chance para Aécio se fazer ouvir em todo o país. Mas pode também se tornar uma armadilha.

No dia 5 de setembro, no artigo intitulado Inovação, Aécio escreveu:

“Um Steve Jobs não brota por geração espontânea. Ele floresce num caldo de cultura em que a educação é valorizada e o talento, reconhecido.”

“O mundo se dividirá cada vez mais entre os países que investem com seriedade em educação, pesquisa e tecnologia e os que não o fazem.”

Hoje, a mesma Folha traz a seguinte manchete: 17 Estados descumprem lei salarial de professor. Dentro do jornal, a matéria leva o título Minas, Bahia, Pará e Rio Grande do Sul estão totalmente fora de normas.

A Folha informa que, em Minas, Estado governado por Aécio por quase oito anos (2003-1010) e onde ele ainda dá as cartas, o piso salarial dos professores da rede estadual equivale a vergonhosos R$ 616, praticamente a metade do que manda a lei (R$ 1.187 por 40 horas semanais). O piso salarial de Minas é o mais baixo do país, mesmo comparado com Estados bem menos aquinhoados, como Amazonas (R$ 1.338), Amapá (R$ 2.171), Acre (R$ 1.187), Sergipe (R$ 1.187) e Alagoas (R$ 1.187).

O marketing de Aécio na Folha foi desmontado pela própria Folha.

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O que a imprensa viu (e o que não viu) na Rocinha

O "luxo" da casa de Peixe

“Luxo, luxo, luxo… reparem no luxo da casa do traficante da Rocinha, favela cujo controle o Estado finalmente retomou…”

Nos últimos dias, jornais, revistas, TVs, rádios e sites martelaram a informação (?) nas nossas cabeças. O que dizer? Faltou foco na pauta.

Repare que Peixe não precisava abrir a geladeira para se servir de água. Luxo, luxo, luxo!

Na casa do traficante Peixe, as imagens mostram um ambiente onde se espremem um dormitório, uma cozinha e um banheiro com hidromassagem. Convenhamos, está mais para um motel arrumadinho do que para um palácio.

Há capricho, certamente. Excessos, não. Banheira de hidromassagem, exaustor, geladeira com dispenser de água, banquetas de bar, cama box, poltrona de tecido, TV de LCD, fogão inox, ar-condicionado… Tudo o que se vê ali é vendido nas Casas Bahia – em 12 vezes sem juros!

Já a casa de Nem tinha até piscina e churrasqueira, informaram repórteres, com ares de espanto, como se estivessem a descrever as torneiras de ouro do palácio de Saddam Hussein. Nem movimentava, por baixo, R$ 100 milhões por ano. Seus comparsas chegaram o oferecer R$ 1 milhão a policiais para aliviar a prisão. Seu luxo maior, porém, era uma piscina de fibra de vidro e uma churrasqueira…

A piscina de "luxo" de Nem

O que é incrível não é luxo dos bunkers de Nem e Peixe. Incrível é o fato de os repórteres não terem feito alguns questionamentos óbvios:

. Se os bunkers dos chefes do tráfico se parecem com vitrines do Ricardo Eletro, onde vai parar a montanha de dinheiro que a droga movimenta?

A prova de que Nem comia até carne: luxo!

. Na estrutura do tráfico, os que estão abaixo de Nem e Peixe não têm direito sequer ao padrão Casas Bahia. Mas e acima? Como é? Como vivem aqueles que protegeram, armaram e abasteceram Nem e Peixe todos esses anos?

. Quem realmente fica com a fortuna do tráfico?

. Quem são os Nem e os Peixe que se escondem atrás de altos cargos nas polícias e nos poderes executivos, legislativo e judiciário?

. Onde está o verdadeiro luxo dessa história?

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Maria do Rosário vê pelo em ovo e ganha seus 15 minutos de fama

Ministra Maria do Rosário: falta trabalho ou sobra tempo?

Em seu comentário na rádio CBN, Arnaldo Jabor disse que Orlando Silva “finalmente caiu do galho”. Pronto! Como o ex-ministro dos Esportes é negro, um tsunami de protestos invadiu a internet a chamar Jabor de racista.

Ouçam o comentário de Jabor aqui.

Minha opinião é que Jabor não quis chamar Orlando Silva de macaco.

E aposto que a maioria dos que chamam o jornalista de racista não escutou o comentário na CBN. Mas passa adiante que Jabor foi racista por na verdade não gostar dele.

Pior nesse episódio é a secretária de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, sair a público para jogar gasolina no fogo. Disse ela no Twitter: “Quero repudiar veementemente a declaração racista do Arnaldo Jabor sobre o ex-ministro Orlando Silva. Isso é inaceitável!”

Parece que a ministra, que tem um desempenho bem fraquinho no governo, procura pelo em ovo para aparecer na mídia.

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Lúcio Flávio Pinto: os jornalistas estão tímidos

Lúcio Flávio: "a imprensa se acovardou"

Quem acompanha o blog sabe da minha admiração por Lúcio Flávio Pinto, editor do Jornal Pessoal, um jornalista que não faz questão de ser chamado de “investigativo”, mas que, nem mesmo sob ameaça, literalmente, abre mão de ser um repórter independente.

Em entrevista ao site da revista Imprensa, Lúcio Flávio diz o que pensa do jornalismo de hoje. Como sempre, implacável.

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Jornalista ameaçado no Pará diz que imprensa brasileira é covarde

Luiz Gustavo Pacete, da revista Imprensa

Há 24 anos, o jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto rompia com o tipo de reportagem tradicional e fundava o Jornal Pessoal, em Belém (PA). Junto com seu irmão Luiz Pinto, mais de duas décadas depois, o jornalista continua com sua plataforma e é enfático: “continuamos a recusar publicidade”. 

Desde 1966 na profissão, Lúcio é o tipo de jornalista que prefere colocar o dedo na ferida, independente do preço a pagar. Apesar de não manter o mesmo ritmo de antes, o repórter publica em seu jornal tudo aquilo que não é dado por grandes veículos e que macula os bastidores da região: sangue, violência, corrupção e muitas injustiças com o povo ribeirinho.

Ele não culpa a grande imprensa por omitir temas envolvendo a região, mas critica a dificuldade dos veículos em entender o contexto dos conflitos locais. Ele também comenta que ameaças e represálias pelas denúncias que faz são constantes, questionado se vale a pena continuar é enfático: “Eu já queria ter terminado; é muito desgastante, mas continuo”. E critica: “os jornalistas de hoje não querem problemas”.

Ele não é otimista quanto às novas gerações. Como professor universitário tentou até encontrar novos jornalistas com vocação para a reportagem, mas lamenta não ter encontrado ninguém. E não nega voltar à imprensa, mas desde que seja como freelancer:, “nada de ficar preso em uma redação”, diz.

Em entrevista ao Portal IMPRENSA, Lúcio fala sobre a hostilidade em sua região, a falta de coragem da imprensa em cobrir temas difíceis, a dificuldade de tocar um jornal sem recursos e de encontrar novos jornalistas dispostos a ir ao campo. 

Portal IMPRENSA – Parafraseando o título de seu livro: o jornalismo no Pará continua na linha de tiro?

Lúcio Flavio Pinto – Apesar da violência, infelizmente existe outra ameaça por aqui. Os jornalistas estão tímidos e presos nas redações com tantas coisas acontecendo por perto. Muita gente no telefone, na internet e quase ninguém em campo. A violência diminuiu não pela redução de casos, mas porque não tem jornalista para mostrar o que está acontecendo. Temos aqui discussões e temas tão relevantes: empobrecimento terrível, conflitos na instalação de hidrelétricas, a expansão da fronteira. Enfim, temas que estão ficando de fora do olhar jornalístico. 

IMPRENSA – Ao que se deve esse aprisionamento nas redações?

Lúcio – O primeiro componente é o custo. Mas o jornalista só aprende o ofício quando sai de sua base. Muitas vezes, grandes jornais e até veículos estrangeiros mandam jornalistas até aqui, mas existe um problema porque os profissionais que chegam não conhecem o histórico da região, o contexto e as sucessões históricas. Isso empobrece a cobertura.  

IMPRENSA – Culpa das empresas ou dos próprios profissionais?

Lúcio – Não só os jornalistas se acomodaram como existe uma nova geração que não vê outras ferramentas de apuração que não seja a internet. A imprensa se acovardou, os jornalistas parecem que não querem mais ter problemas. Querem, na verdade, fama e virar celebridades. Mas poucos topam se arriscar. Acredito que isso é uma distorção da sociedade. Há muito tempo não vemos a figura do repórter furão que descobre coisas novas, muitas vezes esse repórter vive na base do dossiê e nem saem do gabinete.

IMPRENSA – Qual o maior problema que você vê hoje?

Lúcio – Acho muito grave o jornalista que não vê os fatos antes de publicar. Jornalista que não viu o acontecimento não é jornalista. O que distingue o jornalista de todas as outras ciências humanas é o testemunho visual, o contato direto com os personagens. Isso que dá ao jornalismo um caráter especial. Não existe um bom jornalista que seja novo. Jornalista com cinco anos de carreira não é um bom jornalista. Mas, necessariamente, o bom jornalista tem que ter muito tempo de experiência, não de gabinete, mas diante dos fatos. Essa dimensão é imprescindível em uma sociedade democrática. O bom repórter é aquele que saber tirar informação de uma família enlutada e sem transformar o assunto. 

IMPRENSA – Como você financia seu jornal?

Lúcio – Durante parte da minha vida, pude circular em todos os lugares que eu quis. Sempre a empresa jornalística custeou minhas atividades, quando optei pela imprensa alternativa deixei de ter dinheiro para financiar minhas coberturas. Hoje, a imprensa alternativa é cara, eu optei por não ter publicidade, isso me limita um pouco. Passei nove anos na universidade tentando encontrar jornalistas para atuar em linha de frente fazendo o que eu fazia. Mas desisti e larguei a universidade, encontrei jornalistas que escreviam bem, intelectualizados, mas não encontrei que não tivesse o tino e o entusiasmo de ir atrás da notícia, eu acredito que ser repórter está relacionado a um elemento vocacional.

IMPRENSA – Isso acontece muito no jornalismo investigativo? O gênero virou muito modismo?

Lúcio – Eu condeno a camuflagem no jornalismo investigativo. Jamais faria isso. Eu chego ao lugar e digo: ‘sou jornalista’. Durante um tempo, fiz uma série de matérias sobre narcotráfico e conversava com os traficantes. Tenho um código de honra. São duas coisas que podem salvar o jornalista: ele cumprir seu código de honra. Isso me salvou várias vezes, principalmente quando recebi ameaças de morte, pessoas que foram pagas para me matar me avisaram porque conheciam minha forma de trabalhar.

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Carta aberta a Marcos Valério

Solte a voz, Marcos Valério…

Prezado Marcos Valério

Não me esqueci e acredito que você também não. No meu livro O Operador: como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT, publicado em 2005, mostro como, ao apresentar você como o grande vilão do mensalão do PT (e ignorar o mensalão do PSDB), parte da mídia serviu a grandes corruptores e a grandes corruptos, que saíram apenas chamuscados da história, quando não incólumes. Permita-me relembrá-lo de um trecho do livro:

“E a história se repete. Ainda que Marcos Valério permaneça livre da cadeia, sua ruína moral e sua quase exclusão do convívio social serão servidas ao país como compensação para a falta de justiça. Como aconteceu antes, aliás, com PC Farias, operador de outro esquema, integrado pelos corruptores de sempre. Quem foram os grandes financiadores de Collor? De onde saiu o dinheiro do caixa dois do PSDB? Quem encheu as burras do PT? Isso não vem ao caso, desde que a história tenha um vilão e que este vilão pague por todos os outros. Por que Marcos Valério dançou? Porque ele estava lá justamente para isso, caso alguém precisasse dançar. Valério caiu, mas o esquema, não. Seguirá firme, fazendo deputados e senadores, influindo em votações do Congresso, tangendo governadores e se escondendo atrás de presidentes.

Poucos se deram conta, mas, num depoimento ao Congresso, Marcos Valério revelou a verdade que todos ali já sabiam:

– Nós devemos deixar claro para a sociedade brasileira e acabar com a hipocrisia: eu não sou a única empresa que ajudou e ajudará políticos. […] O Marcos Valério não é detentor de tecnologia para ajudar campanhas políticas. Isso já acontece no Brasil desde Rui Barbosa.

O que Marcos Valério tentava dizer era que, no esquema, ele era só o operador. Ou como ele próprio definiu na CPI:

– Eu sou um grande areia. Um grão…”

Passados seis anos, eis que, na sua defesa apresentada ao Supremo Tribunal Federal, você enfim assume seu verdadeiro papel naquela trama: o de operador. E sugere uma certa indignação por ter sido apresentado como o grande vilão da história quando havia vilões bem mais parrudos e maléficos. Diz sua defesa:

“O operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano, alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio presidente Lula.”

Beleza, Marcos Valério, nós sabemos que você é “o operador do intermediário”, um grão de areia. Mas então pare com esses textos cifrados e cheio de reticências e nos diga, de uma vez por todas, quem são o mar, o sol, o rochedo, os tubarões… Conte o que fez, para quem fez e como fez quando você operava nas sombras dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e, em Minas Gerais, nas administrações tucanas de Eduardo Azeredo (1995-1999) e Aécio Neves (2003-2010). Fale tudo. Dê nomes de políticos, autoridades, empresários… Vire a mesa, transforme a história. Prove que o Brasil, para além dos operadores, é um país de corruptos e corruptores. Seja o nosso herói!

Saudações cordiais.

Lucas Figueiredo

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PT-SP chama militância para passeata contra Veja (ou o dia em que a vítima quis trocar de papel com o vilão)

Ilustração da convocação da passeata no site do PT-SP: Pink & Cérebro não fariam melhor

Na semana passada, com um arremedo de reportagem, a revista Veja conseguiu transformar José Dirceu em vítima. Qual das reações abaixo você acha que teve o PT de São Paulo?

A) Apenas reclamou protocolarmente, aceitando de bom grado o papel de vítima para Dirceu, aproveitando assim para resgatar publicamente o petista;

B) Pediu direito de resposta à revista;

C) Pagou anúncio em outras publicações para apresentar sua versão;

D) Num gesto a lá Hugo Chávez, apoiou em seu site oficial uma passeata contra a Veja, desta forma trocando de papel com a revista, que de vilão agora passa a vítima.

Sim, caro leitor, o PT de São Paulo escolheu a letra D. Nem Pink & Cérebro fariam melhor…

Com estrategistas assim, essa guerra será realmente um espanto.

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Afinal, o que é jornalismo investigativo?

O repórter Luiz Gustavo Pacete, da revista Imprensa, fez uma longa entrevista comigo na semana passada sobre jornalismo. Conversamos sobre livros-reportagem, blog e o chamado “jornalismo investigativo”, um termo do qual não gosto e que, na minha opinião, é usado para embalar boas reportagens e também muita picaretagem.
A entrevista sairá no próximo número da Imprensa, mas uma palhinha já está na internet, no Portal Imprensa (veja reprodução abaixo).
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“Tem jornalista investigativo que acha que é juiz e delegado. É um picareta”, critica repórter
Luiz Gustavo Pacete, da revista Imprensa, enviado especial a Belo Horizonte
O jornalista e escritor mineiro Lucas Figueiredo esteve entre os quinze jornalistas brasileiros mais premiados durante os anos de 1995 e 2010. Ganhou os prêmios Esso (2007, 2005 e 2004), Jabuti (2010), Vladimir Herzog (2009 e 2005), Imprensa Embratel (2005) e Folha (1997). Formado na PUC Minas, ele diz que começou o jornalismo com o “pé no barro”. “Eu trabalhava em um jornal comunitário que tratava de temas da periferia. Cobria o que ninguém queria cobrir”, lembra.
Em 1994, Figueiredo foi para Brasília trabalhar para a Folha de S.Paulo. Ficou na capital até 2001 quando mudou para a sede do jornal em São Paulo. Em 2000, sem nenhuma pretensão comercial lançou seu primeiro livro Morcegos Negros pela editora Record. A obra foi fruto de apurações anteriores sobre escândalos e corrupção no governo Collor. “Fez um sucesso que nem eu e a editora esperava. Isso acabou me rendendo uma grana e permitiu que saísse da redação para escrever”, lembra.

O jornalista destaca que essa é sua dinâmica, alternando períodos em que escreve e momentos em que se dedica à redação e reportagens especiais. Após o sucesso do primeiro livro, Figueiredo seguiu produzindo. Escreveu, em 2005, o Ministério do Silêncio; em 2006, o O Operador; Olho por Olho em 2009 e, neste ano, o Boa Ventura!, todos publicados pela Record.
Figueiredo recebeu o Portal IMPRENSA em seu apartamento na capital mineira. Sem nenhum tipo de pudor falou sobre o que lhe incomoda no termo “jornalismo investigativo”, o que para ele é uma verdadeira “picaretagem”. Outra coisa que deixa o jornalista nervoso é o fato de muitos repórteres que recebem tal nomenclatura se acharem acima do bem e do mal. “Um perigo já que a pessoa começa a misturar as coisas, vai se envolvendo e depois acha que é juiz, delegado e promotor, uma verdadeira picaretagem”, diz.
Portal IMPRENSA – Seu primeiro livro [Morcegos Negros] foi feito para aproveitar uma apuração?
Lucas Figueiredo – Eram histórias que eu já tinha apurado. Aquilo era um peso que eu precisava tirar das costas. Tinha crime, sangue, perseguição e muita bandidagem. Passei anos diante desta história e precisava tirar de dentro de mim, exorcizar esse negócio e botar na estante. Decidi fazer o livro, falei com a editora Record e ela deixou clara a realidade sobre o mercado – não muito animadora – mesmo assim publiquei e o livro ficou por várias semanas na lista dos mais vendidos. Vendeu muito e me deu uma grana. Eu já tinha me apaixonado pelo livro-reportagem – em minha opinião a melhor plataforma para se fazer reportagem – e quando vi aquele dinheiro decidi me dedicar ao livro; é o que tenho feito. Hoje já consigo passar períodos fora da redação me dedicando exclusivamente aos livros, mas eventualmente volto.

IMPRENSA – Neste momento você está se dedicando a um novo trabalho?
Figueiredo – Estou trabalhando em um livro que sai o ano que vem, ele vai ser no formato reportagem.
IMPRENSA – Qual o assunto?
Figueiredo – Infelizmente ainda não posso contar.
IMPRENSA – E reportagem especial. Para quem você está trabalhando?
Figueiredo – Não tenho nada muito fixo. Até agora eu estava trabalhando com a GQ, que acabou de chegar ao Brasil. Eles possuem um miolo que é para a grande reportagem. É uma revista masculina super sofisticada, mas você tem dez páginas ali que falam da vida real. Eu tinha um contrato com eles que era uma reportagem de quatro em quatro meses, uma grande reportagem, mais uma coluna mensal de política, e o meu blog que era hospedado no site da revista. Só que isso estava me consumindo demais, e os caras queriam reportagens que fossem matadoras, e isso dá trabalho. Querem coisas robustas, matérias de trinta mil toques… Você não vê hoje na imprensa, um texto deste porte, com exceção da Rolling Stone, da Piauí e da GQ
IMPRENSA – Qual o custo de fazer este tipo de jornalismo?
Figueiredo – A questão é a seguinte: todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém quer pagar. Todo mundo fala que curte a grande reportagem, o jornalismo investigativo, mas não valorizam. Mas o que é jornalismo investigativo? São pessoas com poderes paranormais? Eu não gosto deste termo, acho isso uma bobagem, acho que isso virou uma enganação. Parece que o cara tem poderes e descobre coisas, é meio um astro. E na verdade não é isso, este tipo de jornalismo é sola de sapato e grana. Igual fez a Piaui: acompanhar o Jobim por um mês. Isso é pauta, pesquisa pra cacete. É o cara antes de ir para a rua ler três, quatro livros, e na redação isso é impensável. É o cara passar dois meses em cima de uma história pesquisando. E tudo isso custa muito; você precisa ter alguém qualificado, preparado, alguém mais sênior, mas é basicamente dinheiro e tempo.

IMPRENSA – E as redações não têm nem tempo e nem dinheiro, concorda?
Figueiredo – Todo mundo quer, acha bonito, fala “nossa é jornalismo investigativo e tal”. Muitas vezes pedem a reportagem em quatro dias. Poxa, em quatro dias? Eu não tenho poderes sobrenaturais, isso não é jornalismo investigativo. Então, reforço que não gosto do termo jornalismo investigativo, o que eu vejo é a velha e boa reportagem. Você pega a New Yorker, o cara publica uma entrevista na revista e depois pega e transforma em um livro gigante com tudo o que apurou e esse material vira Best-seller.
IMPRENSA – Você não gosta do termo por que acredita que o jornalismo é investigativo por natureza?
Figueiredo – Na verdade, não. Você tem linguagens diferentes, tem a cobertura diária que demanda alguém dedicado para dar informações mais rápidas. Alguém com o gravador na cola do ministro Mantega, como eu já fiz milhares de vezes. Você precisa de alguém na bolsa para ver como fechou o pregão. Agora você tem outra coisa que é a grande reportagem [enfatiza] que é aquela que tenta identificar onde vai estourar a próxima sacanagem no governo. Ver onde que estão “mamando” e roubando. Para isso, você precisa entrar nos bastidores, demanda entrar no subterrâneo e o que você vai encontrar no subterrâneo só vai descobrir lá. E hoje cada dia menos as redações têm essa disposição.

IMPRENSA – Principalmente por questões financeiras…
Figueiredo – As redações empobreceram, elas foram enxugando, os veículos estão em uma situação delicada há décadas. Então, a realidade é que cada dia você tem menos gente produzindo e menos gente sênior. Quando eu entrei na Folha, em 1994, era uma coisa de louco, a redação era habitada por estrelas, tinha “nego” assim que fazia matérias de um mês, cinco meses. Hoje isso é quase impossível, porque se você quer fazer uma coisa bacana, não adianta, tem que gastar. Cada dia a cobertura aumenta, o número de pessoas diminui e você tem menos pessoas com experiência. E aí o que eu vejo de ruim é que quando essas redações dedicam um tempinho a mais para uma reportagem chamam aquilo de jornalismo investigativo, mesmo sendo uma pauta que veio da direção, se aquilo é um dossiê pronto, não importa, botam lá “exclusivo, jornalismo investigativo”. Esse termo está embalando um monte de picaretagem. Ai você tem uma coisa que eu acho grave: tem muito jornalista acreditando que tem poderes sobrenaturais, que se apresenta dizendo que é o cara do jornalismo investigativo, ai ele começa se achar, começa confundir a relação de poder, começa a achar que é promotor, que é delegado, que é juiz… Aí acabou.
IMPRENSA – Acaba ficando refém das relações que criou…
Figueiredo – Isso mesmo. Ele é investigativo e judiciário, aí o cara acaba fazendo o pacote inteiro. O problema é que a imprensa está dando corda para isso. Por isso que eu não gosto do termo [jornalismo investigativo], porque embala muita picaretagem. É claro, tem coisa séria, mas também muita picaretagem. Eu gosto de chamar de velha e boa reportagem. O que acontece hoje com essa diversidade de meios, internet e mudança do mercado é que você tem espaço para pessoas trabalharem como autônomas. Hoje, por exemplo, eu escolho para quem vou escrever. 
IMPRENSA – Mas essa escolha, além da questão financeira também está baseada no melhor fluxo da informação?
Figueiredo – Claro, eu pego uma boa pauta e posso falar assim: “essa pauta é a cara da Carta Capital“, ai eu ofereço; se não interessa, ligo para a Rolling Stone: ‘te interessa?’, não; aí ligo para outro. Claro que é muito mais confortável ter o salário no final do mês, não ter esse salário te obriga a ter flexibilidade.
IMPRENSA – E no blog, que tipo de conteúdo você oferece?
Figueiredo – Lá no blog eu tento fazer o contrário do que fazem hoje na blogosfera. O que acontece é o seguinte: existe hoje uma bipolaridade tremenda, você vai ao blog do Reinaldo Azevedo e já sabe o que vai encontrar lá. Acabou aquela coisa de dizer “vamos pegar algo um pouco mais plural, com pontos de vista diferentes”. Coisas menos viciadas, acho que tem espaço para isso: poder aumentar os ângulos do debate. E eu acho que o leitor está precisando disso, algo que vá além do que o leitor vê no blog do Reinaldo e no do Paulo Henrique Amorim. 
IMPRENSA – O que representa uma associação como a Abraji para você?
Figueiredo – Eu gosto da Abraji, acho que tem gente muito séria lá. Muitos colegas meus, que passaram ou estão na Abraji. Acho que eles fazem um trabalho muito bom no sentido de oferecer uma sustentação para um tipo de jornalismo mais sensível, oferecem encontros e seminários, para oferecer boas coisas na área de capacitação. Acho legal existir um tipo de entidade como ela. O termo que eu não gosto; este termo [jornalismo investigativo] é uma picaretagem.
IMPRENSA – Então as empresas apostarão mais em caras independentes?
Figueiredo – Eu acho que as empresas não, elas não têm muito fôlego para apostar. Muitas vezes me ligam e dizem: “olha tem uma pauta aqui, uma história investigativa, te pagamos x com base na tabela”, eu digo “poxa amigo, você está querendo que eu vá lá e tire leite de pata?”. Então, sempre tem essa coisa da tabela, número de toques. Ai eu entro em uma história que eu não sei primeiro se vai dar certo; segundo, não sei se vai demorar; terceiro, eu não sei o que vou encontrar pela frente. Por exemplo, vou fazer uma matéria que envolve crime organizado, eu estou arriscando a minha vida. Agora todo mundo quer dar porrada, mas quer pagar uma miséria. Dizem que é jornalismo investigativo, mas estão pagando o mesmo que pagam para fazer uma matéria de agenda. As empresas não dão valor para aquilo que dizem ter valor. Não adianta querer fazer um negócio legal vai morrer numa grana. Você vê: a Piaui está morrendo numa grana. A própria Rolling Stone está fazendo isso. Vão chegar outras revistas… Está todo mundo de saco cheio de commoditie. 
IMPRENSA – Demanda existe?
Figueiredo – Por um lado existe, mas é o seguinte: você não está gastando uma puta grana todo mês para fazer uma New Yorker. O Brasil não tem esse mercado ainda. Você pega as revistas, mas pode investir um pouco mais de grana e o leitor está buscando isso em outras plataformas, nos livros, na internet.  
IMPRENSA – Você vê tendência no mercado de livro-reportagem?
Figueiredo – Cada dia mais vejo um mercado promissor de não-ficção. E agora você está indo para outra vertente que é a de livros com reportagens históricas. Outra coisa é que você não tem uma cultura de leitura de história por parte do leitor jovem. Muita gente diz “por que tem tanto jornalista escrevendo livro agora”?. Isso não é verdade: os jornalistas sempre escreveram livros de história, desde Euclides da Cunha, que era reportagem de Canudos, mas você vai fazer um registro com um olhar histórico até Gabeira, Zuenir Ventura, Fernando Morais. Eu fui ler pela primeira vez sobre Getulio Vargas no livro de um jornalista. Sempre houve um vácuo para contar a história do Brasil dentro de um produto acessível.

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