O que passa na cabeça de um corrupto e de um corruptor? Dorme tranquilo de noite? No restaurante, quando pede ao garçom um vinho de R$ 10 mil reais, sua consciência sussurra algo como “seu luxo é alimentado com dinheiro desviado de escolas, hospitais, estradas”? Ele sofre em algum momento ou é 100% cinismo. O que sente o corrupto?
Nos meus 25 anos de jornalismo, muitas vezes eu me fiz essas perguntas. Tentei ir além, buscando respostas com os corruptos que conheci. Foram vários. Com alguns deles, fontes que cultivei durante anos, cheguei a desfrutar de certa intimidade. Frequentava suas casas, conhecia seus filhos, comíamos à mesma mesa, o que nos permitia, a eles e a mim, falar com mais transparência. Sondei suas almas. Rodei a América do Sul, fui aos Estados Unidos e à Europa para falar com corruptos. Alguns se deixaram revelar parcialmente, porém nunca encontrei uma resposta completa para minhas questões.
Em 1994, no governo Itamar Franco, fiz minha primeira reportagem investigativa sobre corrupção. Um caso clássico: obras superfaturadas do Ministério dos Transportes tocadas por empreiteiras gigantes – Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, entre outras. (Reconhece esses nomes? Pois é…) Perdi as contas de quantas matérias escrevi que citavam essas e outras empreiteiras em episódios de desvio de dinheiro público. Posso nunca ter descoberto o que se passa nos corações e nas mentes dos corruptos, mas, a partir de certo momento, entendi como funcionavam os esquemas que alimentavam corruptos e corruptores.
Na segunda metade da década de 1990, já no governo Fernando Henrique Cardoso, o esquema das grandes empreiteiras estava tão manjado que os corruptos começaram a operar com agências de publicidade. Funcionou – e funcionou bem. Essa história está contada no meu livro O Operador – como (e mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT, publicado dez anos atrás. Como o subtítulo do livro mesmo diz, ali também está contada a história de como o PT,ao chegar ao poder em 2003, se apropriou do esquema de corrupção dos tucanos (o mesmo modus operandi, os mesmos operadores, os mesmos laranjas, os mesmos bancos, os mesmos doleiros, os mesmos corruptores…).
Em matéria de corrupção, portanto, posso dizer que já bati tanto em Chico quanto em Francisco.
Tendo dedicado boa parte da minha atuação profissional às investigações de corrupção, tive um interesse especial pela operação Lava Jato, promovida pelo Ministério Público, pela polícia e pela Justiça federais. Conheço muitos dos personagens envolvidos, alguns deles muito bem aliás.
É inegável que as provas colhidas nas investigações revelam um gigantesco esquema criminoso encabeçado e guiado pelo PT. As bases de sustentação dos governos Lula e Dilma se fartaram com dinheiro grosso desviado da Petrobras. Não há dúvidas: o Partido dos Trabalhadores se corrompeu.
O esquema em que o PT se deliciou, é preciso dizer, não é novo: as empreiteiras, os doleiros e os burocratas são os mesmos que, há décadas, roubam em governos de direita e de centro. Os corruptores não têm ideologia.
Muitos petistas graúdos foram pegos com a boca na botija. Lula foi pego com a boca na botija.
O caso de Lula é, em particular, curioso. Ele cobrava por palestra US$ 200 mil (na cotação de hoje, R$ 704 mil), e sua agenda era cheia. Ou seja, ganhava uma fortuna por meios legais, porém enredou-se numa relação promíscua com grandes empreiteiras. Lula poderia, com o fruto de seu trabalho, ter comprado dezenas de sítios em Atibaia e dezenas de tríplex no Guarujá, mas preferiu render-se a um esquema de “agrados” inaceitáveis.
Lula se corrompeu. E precisa responder por isso na Justiça. (Como eu gostaria de ter uma conversa franca com Lula e ouvir dele uma explicação para ele ter se associado a alguns dos maiores corruptores do país…)
A bem da verdade, porém, é preciso dizer que Lula agiu do mesmo modo que Fernando Henrique Cardoso. Ao deixar a Presidência, FHC também se enredou em num esquema promíscuo com grandes empreiteiras que abarcava favores para membros de sua família e ocultação de patrimônio. Nesse ponto, Lula e FHC são farinha do mesmo saco.
Se é verdade que a Lava Jato mostrou que o Brasil está carcomido pela corrupção, é verdade também que a operação foi (e ainda é) conduzida de forma absolutamente seletiva, portanto viciada. Não é sério um juiz que vaza áudios de grampo em que um investigado que sequer é réu conversa com seu advogado. O nome disso é crime (as comunicações entre advogado e cliente são invioláveis). Não é sério um juiz que vaza o áudio de uma conversa íntima entre a nora de um investigado e um amigo dela, ou o áudio de uma conversa pessoal entre a mulher e o filho de um investigado, conversas que nada tinham a ver com a investigação. O nome disso é perseguição, linchamento moral.
Como juiz, Sérgio Moro se corrompeu. Tornou-se um justiceiro que se considera acima da lei. Assim como Lula, FHC, PT, PSDB, Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, Moro precisa responder por seus desvios.
A Lava Jato tem outro defeito de origem. Foca apenas a corrupção praticada pela base do governo. É no mínimo escandaloso como as investigações deixam passar batido os corruptos de partidos de oposição. Quem em sã consciência acredita, por exemplo, que a Odebrecht, no mercado desde 1944, só fez parcerias criminosas com o PT e seus aliados? Quem engole a seletiva delação premiada dos executivos da Andrade Gutierrez, que por décadas foram associados ao PSDB e agora só se lembram das falcatruas cometidas no governo do PT?
Na Lava Jato, a PF, o MPF e a Justiça Federal tiveram grande competência ao se debruçarem sobre a corrução do PT, mas fecharam os olhos em relação à oposição. O alvo era Lula, e apenas Lula. Afinal, todos sabemos, Lula era um fortíssimo candidato à eleição presidencial de 2018.
A Lava Jato é uma operação contra a candidatura de Lula em 2018 e não um processo criminal de combate à corrupção. Se fosse diferente, as investigações também teriam como alvo Aécio Neves, citado diversas vezes nas delações premiadas mas jamais investigado.
O que explica que a maioria da população tenha abraçado a sanha anti-corrupção no PT, mas dê de barato as práticas corruptas dos adversários do PT? O que explica o ódio contra Dilma, uma presidente incompetente mas honesta, e a indiferença com o figura de Eduardo Cunha, detentor de contas não declaradas na Suíça, cujos recursos foram congelados por fortes suspeitas de terem sua origem em propinas da Petrobras? Resposta: a ação partidária de boa parte da mídia. De dia, de tarde e de noite, os brasileiros são bombardeados por propaganda anti-petista em jornais, TVs, rádios, revistas e portais da internet. O PT é pintado como um lobo mau cercado de chapeuzinhos vermelhos, vovós e valentes caçadores. A verdade, porém, é outra: não há heróis nessa história.
O nome disso é manipulação.
No campo da corrupção, o PT tem grandes pecados, mas também um mérito. Sob Lula e Dilma, o Estado pode finalmente investigar, denunciar e julgar corruptos e corruptores. Parafraseando Lula, nunca antes na história desse país isso tinha acontecido. O PT se corrompeu, è vero, mas nunca deixou de ser um partido republicano, nunca enquadrou a Polícia Federal, nunca calou o Ministério Público. Já os que querem o lugar do PT também se corromperam, mas nada tiveram de republicanos. Alguém imaginaria, por exemplo, que o procurador-geral da República de Lula ou de Dilma fosse chamada todo dia pela imprensa de “engavetador-geral da República”? Isso aconteceu com Fernando Henrique Cardoso. Alguém imaginaria numa administração do PT a existência de um esquema de mordaça do Ministério Público e da imprensa que impedisse o vazamento de qualquer notícia ruim. Isso aconteceu nos oito anos em que o tucano Aécio Neves governou Minas Gerais.
Hipocrisia é o nome do gesto dos que hoje manobram para tomar o poder do PT.
O que vamos assistir neste domingo nada tem a ver com a luta contra a corrupção. Trata-se da luta pelo poder – no caso da oposição, da luta dos que sempre estiveram envolvidos na corrupção, dos que nunca permitiram que a corrução fosse investigada, dos que não tiveram votos suficientes para serem eleitos em 2002, 2006, 2010 e 2014 e agora querem pegar um atalho na história para voltar ao Palácio do Planalto, e obviamente continuar operando com seus esquemas de corrupção.
E a presidente Dilma Rousseff? Qual o seu lugar nessa história? Bom, ela de fato se revelou de uma incompetência administrativa e de uma falta de compreensão da política ímpares. Dilma é uma péssima presidente. Porém, não há um único indício sequer, que dirá uma prova, de que ela seja corrupta. Entendo e me solidarizo com aqueles que contam os dias para que seu governo acabe. Porém, não posso aceitar que seu mandato seja interrompido antes do tempo regulamentar sem que haja prova de que ela tenha comedido crime de responsabilidade, condição cabal para o impeachment.
O impeachment é um instrumento radical. Tem potencial para deixar traumas políticos duradouros. Existe para casos extremos. E exige um motivo concreto: crime de responsabilidade. Em 1992, Fernando Collor sofreu impeachment porque cometeu crime de responsabilidade. Na época, descobriu-se que a reforma da casa que pertencia a ele e um carro de seu uso pessoal haviam sido pagos com dinheiro de fraude. Os recursos tinham saída de uma conta bancária aberta em nome de um “fantasma”, ou seja, uma pessoa que não existia. O nome disso é falsidade ideológica, ocultação de patrimônio, lavagem de dinheiro. É crime de responsabilidade. Já as pedaladas fiscais de Dilma (um recurso contábil ignóbil que é adotado como regra na administração púbica de A a Z no espectro político) pode ser considerado um desvio administrativo, mas nunca um crime de responsabilidade. Dilma é um desastre, mas, pelo que se viu até agora, depois de remexidas as entranhas de seu governo, não é corrupta. E se não é corrupta, se não cometeu crime de responsabilidade, o processo de impeachment é indevido. Em outras palavras, golpe de estado.
Há 31 anos, quando terminou a ditadura civil-militar, iniciamos um penoso período de transição democrática. Encontramo-nos ainda nesse período. Saímos da ditadura, mas ainda não alcançamos a democracia plena. Estamos em algum lugar entre uma coisa e outra. Muitos fatores impediram que terminássemos a viagem. Contudo, até pouco tempo atrás, pelo menos podíamos dizer que estávamos no caminho.
Neste domingo, 17 de abril de 2016, caso a Câmara dos Deputados aprove o início do processo de impeachment de Dilma sem que ela tenha cometido crime de responsabilidade, estaremos finalmente terminando a transição democrática. Não para conquistar a democracia plena, mas para voltar ao passado. Em todos os sentidos.
Michel Temer será um presidente sem legitimidade, terá chegado ao poder por meio de trapaça nas regras do jogo. E que ninguém se iluda: a corrupção continuará a grassar, pois os patrocinadores do impeachment, seja no campo dos que agora desembarcam do governo, seja no campo da oposição, são profissionais no desvio de verbas públicas.
O nome do impeachment é golpe de estado.
Neste domingo, o que está em jogo não é o combate à corrupção, mas sim a frágil democracia do Brasil.
Arquivo da tag: O Operador
Domingo, 17 de abril de 2016: uma reflexão sobre o Brasil
Boa Ventura! agora em ebook
Enfim, trago uma notícia muito cobrada pelos leitores: meu livro Boa Ventura! já está disponível no formato ebook.
A versão digital de Boa Ventura! está sendo oferecida no formato ePub, o mais aceito nos variados aparelhos em que se pode ler livros digitais, dos eReaders (Nook, Sony Reader, Alpha e outros) aos Smartphones, do iPad ao iPhone, passando ainda pelos PCs.
Além de Boa Ventura!, outros dois livros meus já estão disponíveis em ebook: O Operador e Olho por Olho.
As versões e-book de Boa Ventura!, O Operador e Olho por Olho podem ser baixadas, entre outras, nas livrarias virtuais Cultura, Submarino/TheCopia e Iba.
A Editora Record trabalha para oferecer em breve outros dois livros meus na versão digital: Ministério do Silêncio e Morcegos Negros.
Arquivado em Livro-reportagem
Marcos Valério e o PSDB
Reproduzo abaixo artigo de minha autoria publicado neste domingo n’O Estado de S.Paulo (caderno Aliás) sobre as ligações perigosas entre Marcos Valério e o PSDB.
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Mensalidades atrasadas
Por Lucas Figueiredo*, para O Estado de S.Paulo (caderno Aliás), 4 de novembro de 2012
Está tudo muito bom, está tudo muito bem. É o que parece quando olhamos ao redor e vemos uma parcela da sociedade a bradar: desvendamos o mensalão! Desvendamos mesmo?
José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e que tais foram abatidos. Mas o mensalão só será totalmente dissecado quando sua gênese for revelada. Marcos Valério não operou apenas em uma campanha eleitoral ou serviu apenas a um partido ou um governo.
Marcos Valério Fernandes de Souza tinha 34 anos quando em 1995 teve início a era de ouro do PSDB (naquele ano, Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência da República e, em Minas Gerais, Eduardo Azeredo foi empossado no governo do Estado). Valério era desimportante. Não tinha poder, não circulava nas rodas políticas e seu patrimônio era modesto.
Um ano após a assunção de Eduardo Azeredo ao governo, Valério se materializou como sócio da semifalida agência de publicidade SMPB. Não entrou com dinheiro, mas com capacidade operativa. A fim de levantar a SMPB, obteve um empréstimo de R$ 1,6 milhão com o hoje extinto banco estatal mineiro Credireal, numa operação que posteriormente o Ministério Público de Minas classificaria como “de pai para filho” ou, em palavra ainda mais forte, “escusa”.
Na estrada aberta para a SMPB pelo governo tucano em Minas, Valério trafegava nas duas vias. Em 1998, tornou-se operador financeiro da campanha de reeleição de Azeredo. Primeiro, botou sua assinatura num contrato de empréstimo de R$ 2 milhões no Rural (o dinheiro foi retirado do banco numa caixa de papelão pelo tesoureiro da campanha). Depois, mais um empréstimo, de R$ 9 milhões.
Ainda naquele ano, no período que vai de 40 dias antes da eleição até o interregno entre o primeiro e o segundo turnos, três estatais de Minas – Cemig, Copasa e Comig, hoje Codemig – alimentaram as empresas de Valério com R$ 4,7 milhões. Segundo o Ministério Público, o dinheiro entrava de um lado (estatais de Minas e Banco Rural) e saía pelo outro (os cofres da coligação formada pelo PSDB, PFL, hoje DEM, PTB e PPB, hoje PP). Registros bancários e do próprio Valério indicam que ele pagou parte dos custos da campanha publicitária de Azeredo e distribuiu recursos para 75 candidatos e colaboradores da coligação encabeçada pelo PSDB.
Em poucos dias terminará o julgamento do processo do mensalão do PT no STF. Já o mensalão do PSDB mineiro será apreciado em processos fatiados, pelo STF e pela Justiça de Minas. E só Deus sabe quando.
De qualquer forma, quando o passado vier à luz, talvez seja possível esclarecer algumas dúvidas. Por exemplo: o que levou a SMPB de Valério a ganhar grandiosos contratos de publicidade no governo de FHC (Banco do Brasil, Ministério do Trabalho, Ministério dos Esportes, Eletronorte e Fundacentro)? Por que Valério, por intermédio da SMPB, doou R$ 50 mil à campanha de reeleição de Fernando Henrique, em 1998? Por que Danilo de Castro – um dos principais articuladores políticos do senador Aécio Neves – foi avalista de um empréstimo do Rural para a SMPB? Quais provas fizeram do jornalista Eduardo Pereira Guedes, integrante graduado do staff de marketing político de Aécio, réu no processo do mensalão mineiro? Por que o PSDB continuou a defender Azeredo após o mensalão mineiro ser revelado (Arthur Virgílio, então líder do partido no Senado, disse que, a despeito das acusações, a bancada tucana reafirmava sua “plena confiança na honradez e na lisura desse companheiro”)? Por que o PSDB lançou Azeredo a deputado federal (ele se elegeu e seu mandato vai até 2015) mesmo sabendo que o Ministério Público Federal o acusava de ser “um dos mentores e principal beneficiário” do mensalão mineiro? O que explica o fato de que, entre 1997 e 2002, período em que operava para o PSDB, Valério fez seu patrimônio declarado no Imposto de Renda saltar de R$ 230 mil para R$ 3,9 milhões (1.600% de aumento em cinco anos, com uma inflação de 42%)?
Como se vê, o filme ainda não acabou.
* Lucas Figueiredo é jornalista, escritor, autor, entre outros, de O Operador – Como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT (Record)
“Olho por Olho” e “O Operador” agora em e-book
Para aqueles que cobram a conversão de meus livros no formato e-book, finalmente uma boa notícia. Olho por Olho e O Operador já estão à venda nas livrarias digitais.
Ambos estão sendo oferecidos no formato ePub, o mais aceito nos variados aparelhos em que se pode ler livros digitais, dos eReaders (Nook, Sony Reader, Alpha e outros) aos Smartphones, do iPad ao iPhone, passando ainda pelos PCs. O ePub só não é aceito, por enquanto, no Kindle, que exige o formato Mobi, exclusivo da Amazon. Mas negociações estão em curso e imagina-se que no meio do ano haja um acordo.
A Editora Record está trabalhando para converter meus outros livros (Boa Ventura!, Ministério do Silêncio e Morcegos Negros) em e-book. Assim que tiver uma novidade, aviso.
As versões e-book de Olho por Olho e O Operador podem ser baixadas nas seguintes livrarias virtuais: Cultura, Submarino/TheCopia, Livraria Curitiba e Livraria Abril, entre outras.
Arquivado em Jornalismo, Livro-reportagem
Mares Guia opera
Nos últimos dias, distraído, o noticiário voltou a esbarrar num personagem dos mais enigmáticos da fauna política nacional: Walfrido dos Mares Guia.
Ex-ministro de Lula (Turismo e, depois, Relações Institucionais), raposa política mineira (espécie em extinção), Mares Guia havia encenado uma saída de cena, em 2007, quando seu nome apareceu no escândalo do mensalão do PSDB mineiro. Um azar – que fique registrado – ele ter deixado o governo Lula naquela época e, ato contínuo, ter sumido, pois era o homem talhado para contar como se dera o “nascimento” de Marcos Valério. Em 1998, Mares Guia fora o coordenador de fato da campanha à reeleição do então governador de Minas Gerais, o tucano Eduardo Azeredo, campanha esta que tirou do limbo um pobretão desimportante chamado Marcos Valério e o elevou à condição de operador de caixa dois de campanhas eleitorais. Naquela empreitada política, com escrevi no meu livro O Operador, Mares Guia discutia e Marcos Valério pagava.
Pois bem, na semana passada o novo ministro do Turismo, Gastão Veira, veio trazer à luz outros feitos de Mares Guia. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Vieira foi questionado sobre o porquê de, seguidamente, as emendas do Orçamento da União darem origem a desvios no Ministério do Turismo. Vieira respondeu: “O ministério nasce assim. Não estou criticando, mas o ministério nasce com um grande trabalho do [ex-] ministro Walfrido dos Mares Guia, que usou seu prestígio para conseguir emenda, porque praticamente não tinha orçamento”.
Hoje, em Belo Horizonte, exercitando um de seus dons, a onipresença, Mares Guia apareceu ao lado de tucanos e comunistas, em dois eventos diferentes, a articular a reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), produto de uma exótica parceria PSDB-PT-PSB. Como de costume, Mares Guia não fez barulho, não deu declarações bombásticas, não demonstrou o imenso poder que tem. Esfinge, camaleão, misturou-se aos demais presentes dando a impressão de que era apenas mais um na foto (vejam as imagens). Não era! Walfrido é o pai da criança (dessa e de outras).

Outra reunião política ocorrida hoje em BH, desta vez entre comunistas e “socialistas”. No canto direito, ele, Mares Guia
Um mistério de Minas (mais um): um empresário milionário (Mares Guia) dirigente de um partido “socialista” (o PSB) consegue unir Lula e Aécio Neves (dois possíveis candidatos a presidente em 2014 e 2018) e os comunistas do PCdoB num mesmo projeto político. Vai entender qual o cimenta dessa estrovenga.
Arquivado em Política
Carta aberta a Marcos Valério
Prezado Marcos Valério
Não me esqueci e acredito que você também não. No meu livro O Operador: como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT, publicado em 2005, mostro como, ao apresentar você como o grande vilão do mensalão do PT (e ignorar o mensalão do PSDB), parte da mídia serviu a grandes corruptores e a grandes corruptos, que saíram apenas chamuscados da história, quando não incólumes. Permita-me relembrá-lo de um trecho do livro:
“E a história se repete. Ainda que Marcos Valério permaneça livre da cadeia, sua ruína moral e sua quase exclusão do convívio social serão servidas ao país como compensação para a falta de justiça. Como aconteceu antes, aliás, com PC Farias, operador de outro esquema, integrado pelos corruptores de sempre. Quem foram os grandes financiadores de Collor? De onde saiu o dinheiro do caixa dois do PSDB? Quem encheu as burras do PT? Isso não vem ao caso, desde que a história tenha um vilão e que este vilão pague por todos os outros. Por que Marcos Valério dançou? Porque ele estava lá justamente para isso, caso alguém precisasse dançar. Valério caiu, mas o esquema, não. Seguirá firme, fazendo deputados e senadores, influindo em votações do Congresso, tangendo governadores e se escondendo atrás de presidentes.
Poucos se deram conta, mas, num depoimento ao Congresso, Marcos Valério revelou a verdade que todos ali já sabiam:
– Nós devemos deixar claro para a sociedade brasileira e acabar com a hipocrisia: eu não sou a única empresa que ajudou e ajudará políticos. […] O Marcos Valério não é detentor de tecnologia para ajudar campanhas políticas. Isso já acontece no Brasil desde Rui Barbosa.
O que Marcos Valério tentava dizer era que, no esquema, ele era só o operador. Ou como ele próprio definiu na CPI:
– Eu sou um grande areia. Um grão…”
Passados seis anos, eis que, na sua defesa apresentada ao Supremo Tribunal Federal, você enfim assume seu verdadeiro papel naquela trama: o de operador. E sugere uma certa indignação por ter sido apresentado como o grande vilão da história quando havia vilões bem mais parrudos e maléficos. Diz sua defesa:
“O operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano, alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio presidente Lula.”
Beleza, Marcos Valério, nós sabemos que você é “o operador do intermediário”, um grão de areia. Mas então pare com esses textos cifrados e cheio de reticências e nos diga, de uma vez por todas, quem são o mar, o sol, o rochedo, os tubarões… Conte o que fez, para quem fez e como fez quando você operava nas sombras dos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e, em Minas Gerais, nas administrações tucanas de Eduardo Azeredo (1995-1999) e Aécio Neves (2003-2010). Fale tudo. Dê nomes de políticos, autoridades, empresários… Vire a mesa, transforme a história. Prove que o Brasil, para além dos operadores, é um país de corruptos e corruptores. Seja o nosso herói!
Saudações cordiais.
Lucas Figueiredo
Arquivado em Colarinho branco, Imprensa, Livro-reportagem, Política
Afinal, o que é jornalismo investigativo?

IMPRENSA – Acaba ficando refém das relações que criou…
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Ebook, novas edições e cinema
Breves notícias sobre meus livros:
* A Editora Record prepara para o segundo semestre o lançamento da versão ebook dos cinco livros de minha autoria (Morcegos Negros, Ministério do Silêncio, O Operador; Olho por Olho e Boa Ventura!);
* Em julho, chegará às livrarias uma nova edição (versão em papel) de Ministério do Silêncio, atualmente esgotado;
* Boa Ventura !, lançado há menos de três meses e com 15 mil exemplares vendidos, caminha para a quarta edição;
* Em breve, espero anunciar novidades sobre a versão para o cinema de dois de meus livros.
Arquivado em Livro-reportagem
Indecências na Casa Civil
Lembram-se da assessora de imprensa da então senadora Ideli Salvatti que ficou famosa na CPI dos Correios e foi parar na capa da Playboy. Camila Amaral era o nome dela.
Se Ideli for a para a Casa Civil, Camila vai junto? Indecência por indecência, melhor Camila que Palocci.
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Recordar é viver: trecho do meu livro O Operador – Como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT que cita Ideli e Camila:
A CPI [dos Correios] também revelou talentos fora de seus quadros. Alguns pelo conteúdo, outros pela forma. Nesse último grupo, destacou-se Camila Amaral, a bela e loura assessora de imprensa da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que, do esplendor dos seus 25 anos de idade, arrancava suspiros do público masculino a cada entrada na comissão. Não deu outra: foi parar na capa da revista Playboy. No ensaio, Camila aparece nua em frente ao Congresso e ao Palácio do Planalto. Várias fotos mostram a assessora num cenário montado para parecer um gabinete parlamentar. A capa não era menos ousada: só de alcinha, sapatos de salto alto e suspensórios, Camila faz sinal de silêncio com o dedo indicador enquanto, com a outra mão, aponta um homem de terno que parece sair da página da revista com uma maleta recheada de dólares. Revolta? Que nada! A reação do Congresso foi de puro deleite. Alguns integrantes da CPI chegaram a dar seus depoimentos à revista. Onyx Lorenzoni derramou-se em elogios. “Quando a Camila entra na CPI, ela ilumina o ambiente, seja de manhã, de tarde ou de noite”, disse o deputado. Já o petista Maurício Rands (PE) preferiu fazer um trocadilho com o nome da senadora que empregava Camila. “Ideliciosa”, exclamou à Playboy sem pudor.
Arquivado em Política
O saco de maldades de Pimentel
A cabeça do ministro Guido Mantega (Fazenda) está a prêmio, e o mais novo operador da guilhotina é o seu colega Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento. Por intermédio de seus (muitos) contatos na imprensa, Pimentel tem espalhado que a indesejada valorização do real tem sido preservada por Mantega como meio de combater a inflação (com o dólar fraco, fica mais fácil importar, inibindo assim os preços dos produtos nacionais).
Já foi dito aqui que Pimentel é um ás. Por onde passa, deixa vítimas. É bom anotar: Pimentel não veio a Brasília para ser apenas ministro do Desenvolvimento. Suas pretensões são bem maiores, e incluem um papel de destaque na equipe econômica. Mantega que se cuide.