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Blindado por Andrea Neves durante três décadas, Aécio se desmancha no ar (e leva a irmã junto)

acio212Leia aqui meu artigo publicado em The Intercept sobre o poderoso esquema de Andrea Neves que, com mão de ferro, sangue e culpe, fez Aécio Neves ser retratado como o mocinho da fita durante três décadas.

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Domingo, 17 de abril de 2016: uma reflexão sobre o Brasil

bandeira-brasil-rasgada1O que passa na cabeça de um corrupto e de um corruptor? Dorme tranquilo de noite? No restaurante, quando pede ao garçom um vinho de R$ 10 mil reais, sua consciência sussurra algo como “seu luxo é alimentado com dinheiro desviado de escolas, hospitais, estradas”? Ele sofre em algum momento ou é 100% cinismo. O que sente o corrupto?
Nos meus 25 anos de jornalismo, muitas vezes eu me fiz essas perguntas. Tentei ir além, buscando respostas com os corruptos que conheci. Foram vários. Com alguns deles, fontes que cultivei durante anos, cheguei a desfrutar de certa intimidade. Frequentava suas casas, conhecia seus filhos, comíamos à mesma mesa, o que nos permitia, a eles e a mim, falar com mais transparência. Sondei suas almas. Rodei a América do Sul, fui aos Estados Unidos e à Europa para falar com corruptos. Alguns se deixaram revelar parcialmente, porém nunca encontrei uma resposta completa para minhas questões.
Em 1994, no governo Itamar Franco, fiz minha primeira reportagem investigativa sobre corrupção. Um caso clássico: obras superfaturadas do Ministério dos Transportes tocadas por empreiteiras gigantes – Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS, entre outras. (Reconhece esses nomes? Pois é…) Perdi as contas de quantas matérias escrevi que citavam essas e outras empreiteiras em episódios de desvio de dinheiro público. Posso nunca ter descoberto o que se passa nos corações e nas mentes dos corruptos, mas, a partir de certo momento, entendi como funcionavam os esquemas que alimentavam corruptos e corruptores.
Na segunda metade da década de 1990, já no governo Fernando Henrique Cardoso, o esquema das grandes empreiteiras estava tão manjado que os corruptos começaram a operar com agências de publicidade. Funcionou – e funcionou bem. Essa história está contada no meu livro O Operador – como (e mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT, publicado dez anos atrás. Como o subtítulo do livro mesmo diz, ali também está contada a história de como o PT,ao chegar ao poder em 2003, se apropriou do esquema de corrupção dos tucanos (o mesmo modus operandi, os mesmos operadores, os mesmos laranjas, os mesmos bancos, os mesmos doleiros, os mesmos corruptores…).
Em matéria de corrupção, portanto, posso dizer que já bati tanto em Chico quanto em Francisco.
Tendo dedicado boa parte da minha atuação profissional às investigações de corrupção, tive um interesse especial pela operação Lava Jato, promovida pelo Ministério Público, pela polícia e pela Justiça federais. Conheço muitos dos personagens envolvidos, alguns deles muito bem aliás.
É inegável que as provas colhidas nas investigações revelam um gigantesco esquema criminoso encabeçado e guiado pelo PT. As bases de sustentação dos governos Lula e Dilma se fartaram com dinheiro grosso desviado da Petrobras. Não há dúvidas: o Partido dos Trabalhadores se corrompeu.
O esquema em que o PT se deliciou, é preciso dizer, não é novo: as empreiteiras, os doleiros e os burocratas são os mesmos que, há décadas, roubam em governos de direita e de centro. Os corruptores não têm ideologia.
Muitos petistas graúdos foram pegos com a boca na botija. Lula foi pego com a boca na botija.
O caso de Lula é, em particular, curioso. Ele cobrava por palestra US$ 200 mil (na cotação de hoje, R$ 704 mil), e sua agenda era cheia. Ou seja, ganhava uma fortuna por meios legais, porém enredou-se numa relação promíscua com grandes empreiteiras. Lula poderia, com o fruto de seu trabalho, ter comprado dezenas de sítios em Atibaia e dezenas de tríplex no Guarujá, mas preferiu render-se a um esquema de “agrados” inaceitáveis.
Lula se corrompeu. E precisa responder por isso na Justiça. (Como eu gostaria de ter uma conversa franca com Lula e ouvir dele uma explicação para ele ter se associado a alguns dos maiores corruptores do país…)
A bem da verdade, porém, é preciso dizer que Lula agiu do mesmo modo que Fernando Henrique Cardoso. Ao deixar a Presidência, FHC também se enredou em num esquema promíscuo com grandes empreiteiras que abarcava favores para membros de sua família e ocultação de patrimônio. Nesse ponto, Lula e FHC são farinha do mesmo saco.
Se é verdade que a Lava Jato mostrou que o Brasil está carcomido pela corrupção, é verdade também que a operação foi (e ainda é) conduzida de forma absolutamente seletiva, portanto viciada. Não é sério um juiz que vaza áudios de grampo em que um investigado que sequer é réu conversa com seu advogado. O nome disso é crime (as comunicações entre advogado e cliente são invioláveis). Não é sério um juiz que vaza o áudio de uma conversa íntima entre a nora de um investigado e um amigo dela, ou o áudio de uma conversa pessoal entre a mulher e o filho de um investigado, conversas que nada tinham a ver com a investigação. O nome disso é perseguição, linchamento moral.
Como juiz, Sérgio Moro se corrompeu. Tornou-se um justiceiro que se considera acima da lei. Assim como Lula, FHC, PT, PSDB, Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, Moro precisa responder por seus desvios.
A Lava Jato tem outro defeito de origem. Foca apenas a corrupção praticada pela base do governo. É no mínimo escandaloso como as investigações deixam passar batido os corruptos de partidos de oposição. Quem em sã consciência acredita, por exemplo, que a Odebrecht, no mercado desde 1944, só fez parcerias criminosas com o PT e seus aliados? Quem engole a seletiva delação premiada dos executivos da Andrade Gutierrez, que por décadas foram associados ao PSDB e agora só se lembram das falcatruas cometidas no governo do PT?
Na Lava Jato, a PF, o MPF e a Justiça Federal tiveram grande competência ao se debruçarem sobre a corrução do PT, mas fecharam os olhos em relação à oposição. O alvo era Lula, e apenas Lula. Afinal, todos sabemos, Lula era um fortíssimo candidato à eleição presidencial de 2018.
A Lava Jato é uma operação contra a candidatura de Lula em 2018 e não um processo criminal de combate à corrupção. Se fosse diferente, as investigações também teriam como alvo Aécio Neves, citado diversas vezes nas delações premiadas mas jamais investigado.
O que explica que a maioria da população tenha abraçado a sanha anti-corrupção no PT, mas dê de barato as práticas corruptas dos adversários do PT? O que explica o ódio contra Dilma, uma presidente incompetente mas honesta, e a indiferença com o figura de Eduardo Cunha, detentor de contas não declaradas na Suíça, cujos recursos foram congelados por fortes suspeitas de terem sua origem em propinas da Petrobras? Resposta: a ação partidária de boa parte da mídia. De dia, de tarde e de noite, os brasileiros são bombardeados por propaganda anti-petista em jornais, TVs, rádios, revistas e portais da internet. O PT é pintado como um lobo mau cercado de chapeuzinhos vermelhos, vovós e valentes caçadores. A verdade, porém, é outra: não há heróis nessa história.
O nome disso é manipulação.
No campo da corrupção, o PT tem grandes pecados, mas também um mérito. Sob Lula e Dilma, o Estado pode finalmente investigar, denunciar e julgar corruptos e corruptores. Parafraseando Lula, nunca antes na história desse país isso tinha acontecido. O PT se corrompeu, è vero, mas nunca deixou de ser um partido republicano, nunca enquadrou a Polícia Federal, nunca calou o Ministério Público. Já os que querem o lugar do PT também se corromperam, mas nada tiveram de republicanos. Alguém imaginaria, por exemplo, que o procurador-geral da República de Lula ou de Dilma fosse chamada todo dia pela imprensa de “engavetador-geral da República”? Isso aconteceu com Fernando Henrique Cardoso. Alguém imaginaria numa administração do PT a existência de um esquema de mordaça do Ministério Público e da imprensa que impedisse o vazamento de qualquer notícia ruim. Isso aconteceu nos oito anos em que o tucano Aécio Neves governou Minas Gerais.
Hipocrisia é o nome do gesto dos que hoje manobram para tomar o poder do PT.
O que vamos assistir neste domingo nada tem a ver com a luta contra a corrupção. Trata-se da luta pelo poder – no caso da oposição, da luta dos que sempre estiveram envolvidos na corrupção, dos que nunca permitiram que a corrução fosse investigada, dos que não tiveram votos suficientes para serem eleitos em 2002, 2006, 2010 e 2014 e agora querem pegar um atalho na história para voltar ao Palácio do Planalto, e obviamente continuar operando com seus esquemas de corrupção.
E a presidente Dilma Rousseff? Qual o seu lugar nessa história? Bom, ela de fato se revelou de uma incompetência administrativa e de uma falta de compreensão da política ímpares. Dilma é uma péssima presidente. Porém, não há um único indício sequer, que dirá uma prova, de que ela seja corrupta. Entendo e me solidarizo com aqueles que contam os dias para que seu governo acabe. Porém, não posso aceitar que seu mandato seja interrompido antes do tempo regulamentar sem que haja prova de que ela tenha comedido crime de responsabilidade, condição cabal para o impeachment.
O impeachment é um instrumento radical. Tem potencial para deixar traumas políticos duradouros. Existe para casos extremos. E exige um motivo concreto: crime de responsabilidade. Em 1992, Fernando Collor sofreu impeachment porque cometeu crime de responsabilidade. Na época, descobriu-se que a reforma da casa que pertencia a ele e um carro de seu uso pessoal haviam sido pagos com dinheiro de fraude. Os recursos tinham saída de uma conta bancária aberta em nome de um “fantasma”, ou seja, uma pessoa que não existia. O nome disso é falsidade ideológica, ocultação de patrimônio, lavagem de dinheiro. É crime de responsabilidade. Já as pedaladas fiscais de Dilma (um recurso contábil ignóbil que é adotado como regra na administração púbica de A a Z no espectro político) pode ser considerado um desvio administrativo, mas nunca um crime de responsabilidade. Dilma é um desastre, mas, pelo que se viu até agora, depois de remexidas as entranhas de seu governo, não é corrupta. E se não é corrupta, se não cometeu crime de responsabilidade, o processo de impeachment é indevido. Em outras palavras, golpe de estado.
Há 31 anos, quando terminou a ditadura civil-militar, iniciamos um penoso período de transição democrática. Encontramo-nos ainda nesse período. Saímos da ditadura, mas ainda não alcançamos a democracia plena. Estamos em algum lugar entre uma coisa e outra. Muitos fatores impediram que terminássemos a viagem. Contudo, até pouco tempo atrás, pelo menos podíamos dizer que estávamos no caminho.
Neste domingo, 17 de abril de 2016, caso a Câmara dos Deputados aprove o início do processo de impeachment de Dilma sem que ela tenha cometido crime de responsabilidade, estaremos finalmente terminando a transição democrática. Não para conquistar a democracia plena, mas para voltar ao passado. Em todos os sentidos.
Michel Temer será um presidente sem legitimidade, terá chegado ao poder por meio de trapaça nas regras do jogo. E que ninguém se iluda: a corrupção continuará a grassar, pois os patrocinadores do impeachment, seja no campo dos que agora desembarcam do governo, seja no campo da oposição, são profissionais no desvio de verbas públicas.
O nome do impeachment é golpe de estado.
Neste domingo, o que está em jogo não é o combate à corrupção, mas sim a frágil democracia do Brasil.

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Cuspa, bata, esfole, mate… ajude a construir um novo Brasil

Constantino

Constantino, o de bermuda americanizada, treina para abater seu alvo

Rodrigo Constantino, colunista do jornal O Globo e ex-colunista da revista Veja, divulgou em seu blog uma lista negra com os nomes de 767 “petralhas” que seriam “cúmplices dos golpistas” Em seguida, conclamou seus leitores:

“Boicote nos vagabundos, gente! Sem dó nem piedade. Eles querem transformar o Brasil numa Venezuela, num Cubão. Eles são comparsas dos bandidos que tomaram Brasília de assalto e atentam contra nossa democracia. Não comprem nada deles! Não leiam suas colunas! Não frequentem seus shows e peças. É boicote geral a petralha!”

Meu nome está entre os 767 condenados por esse novo macarthismo que vai perigosamente conquistando mentes e corações no Brasil.

Não estranhei meu nome estar na lista, apesar de, em 25 anos de jornalismo, ter me dedicado à denúncia sistemática da corrupção – de esquerda, centro e direita.

Meu nome está na lista porque sempre defendi o Estado Democrático de Direito. E sempre acreditei que o autoritarismo (ou o flerte com o autoritarismo) deveria ser denunciado. Continuo acreditando.

Talvez, daqui a pouco alguém proponha que os indicados na lista negra de Constantino sejamos obrigados a andar com uma estrela bordada na camisa. Só para que fique claro para todos quem somos nós.

O ovo da serpente está chocando.

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Qual o futuro do jornalismo investigativo?

TINTIN SNOWYComo fica o jornalismo investigativo em tempos de crise na imprensa tradicional e de ascensão das plataformas eletrônicas? Esse foi o tema do último programa Rede Mídia, da Rede Minas, levado ao ar no dia 12 de janeiro, no qual debati com a professora Virgínia Palmerston, da UNI-BH.

Mediado pelo jornalista Luiz Henrique Freitas, o Rede Mídia é um importante fórum de debates e análise sobre a comunicação e a mídia.  O Rede Mídia tem um canal no YouTube com a íntegra de seus programas.

Abaixo, os links do programa sobre jornalismo investigativo.

PARTE I (12 minutos)

https://www.youtube.com/watch?v=obnN-vokJJw&list=PLVBEjiXXZFlWB-eykhCDre67mMTqh0mTH&index=4

PARTE II (12 minutos)

https://www.youtube.com/watch?v=OaMcsqPtg6E&list=PLVBEjiXXZFlWB-eykhCDre67mMTqh0mTH&index=5

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Quem com a mídia fere…

Senador Demóstenes Torres (sem partido – GO), no último dia 12, durante a reunião do Conselho de Ética que define o novo relator de seu processo disciplinar.

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FHC: Olha aí! É o meu guri!

Filhos, filhos… Lula tem, Erenice Guerra tem… Agora, como mostra a revista IstoÉ que acaba de chegar às bancas (leia abaixo), é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quem tem problemas com seu guri. Aliás, que guri…

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O esquema suspeito de PHC & Disney

PEDRO MARCONDES DE MOURA, da IstoÉ

Os passos do grupo americano The Walt Disney Company no Brasil vêm sendo seguidos com atenção pelo Ministério das Comunicações. Foram constatados fortes indícios de que, por meio de uma manobra ilegal, a companhia seria a controladora da Rádio Itapema FM de São Paulo, conhecida popularmente como Rádio Disney. De acordo com as leis nacionais, empresas jornalísticas e emissoras de rádio e televisão não podem ter participação estrangeira no seu capital acima de 30%. Para mascarar a situação irregular da emissora, o grupo americano, um dos maiores conglomerados de mídia e entretenimento do mundo, estaria recorrendo a um personagem de peso como testa de ferro: Paulo Henrique Cardoso, filho do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. É ele quem se apresenta para os órgãos públicos como o acionista majoritário da Rádio Holding Participações Ltda., controladora de 71% da Itapema FM de São Paulo. Os outros 29% pertencem a The Walt Disney Company (Brasil) Ltda.

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Documentos obtidos por ISTOÉ demonstram, no entanto, que a participação de  Paulo Henrique Cardoso no capital da Rádio Disney é apenas simbólica. Na ficha cadastral da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp), emitida na quinta-feira 17, quem aparece na posição de sócia majoritária da Rádio Holding e, portanto, da Rádio Disney FM é uma outra empresa: a americana ABC Venture Corp. O endereço da ABC Venture, registrada na Califórnia, é o mesmo de outras empresas do grupo Disney, como a famosa rede de televisão aberta dos Estados Unidos ABC, adquirida na década de 90. As coincidências não param por aí. Segundo o governo do Estado da Califórnia, a executiva responsável legal pela ABC Venture é Marsha L. Reed, cujo nome também aparece no quadro de funcionários de alto escalão disponibilizado no site do grupo Walt Disney. Na realidade, a ABC Venture (controladora da Rádio Holding e da Rádio Disney) é uma subsidiária da Disney Enterprises Inc., braço do conglomerado The Walt Disney Company.

Cruzando as informações obtidas por ISTOÉ, percebe-se que, por meio de suas ramificações, a Walt Disney é dona de mais de 99% da rádio brasileira Itapema FM, sintonizada na capital paulista pela frequência 91,3 MHz. Esse controle é proibido e sujeito a sanções pela legislação nacional. “Se comprovada uma irregularidade desta, a concessão de funcionamento pode ser cancelada”, explica Jacintho Silveira, professor de direito administrativo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Um expediente parecido da Disney foi identificado também por autoridades locais na Argentina. Um parecer do Departamento do Tesouro, de junho de 2010, foi contrário à venda da Difusora y Radio Medios S.A. para a ABC Venture Corp. e Disney Company Argentina. Um dos motivos apresentados pelo procurador Joaquim Pedro da Rocha para recomendar o bloqueio do negócio foi que ambas as empresas eram, no fundo, a mesma coisa. Direta ou indiretamente pertenciam ao grupo americano.

Procurados por ISTOÉ, Paulo Henrique Cardoso, a Rádio Disney e a The Walt Disney Company (Brasil) disseram não haver nenhuma irregularidade na situação da emissora brasileira. Por meio da assessoria de imprensa, a Disney e PHC, como é conhecido o filho do ex-presidente, enviaram uma cópia digitalizada do primeiro contrato social da Rádio Holding e de outro contrato com uma alteração. Os documentos, com protocolo da Jucesp, registram que, até fevereiro de 2010, a Rádio Holding Participações Ltda., controladora da Rádio Disney, tinha como principal cotista Paulo Henrique Cardoso, com participação de 98,6%. “A Rádio Holding Participações Ltda., de propriedade de Paulo Henrique Cardoso, possui 71% da Rádio Itapema e a The Walt Disney Company (Brasil) possui 29% (a compra foi autorizada pela portaria número 100, de 11 de março de 2010 do Ministério das Comunicações)”, informa a nota enviada pelos sócios. “O ato de compra foi autorizado pelo Cade, conforme publicado no “Diário Oficial da União” número 50 de 16 de março de 2010, Seção 1, sob ato de concentração 08012.010278/2009-12”, complementa. Se essa fosse, de fato, a estrutura societária, a rádio estaria dentro das exigências da legislação brasileira. O quadro societário verificado por ISTOÉ na Jucesp, porém, é outro. Segundo o especialista em direito comercial Carlo Frederico Müller, as juntas comerciais apenas registram e averbam documentos enviados para ela. “Os responsáveis pela empresa têm de notificar qualquer alteração contratual a estes órgãos e, em caso de rádios, à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que regula o setor”, explica.

img2.jpgOutras evidências revelam a forte presença do grupo americano no controle da emissora. Neste ano, a ABC Venture Corp. e Paulo Henrique Cardoso concederam procurações dando amplos e incomuns poderes a dois executivos da The Walt Disney Company Brasil, o americano ­Richard Javier Leon e o mexicano Miguel Angel Vives. Com as procurações, a dupla de executivos da Disney pode, entre outras atribuições, “depositar e sacar fundos, emitir e endossar cheques, solicitar créditos em conta-corrente” da Rádio Holding Participações Ltda. Na opinião da Rádio Disney, isso não configura ingerência e está dentro dos limites estabelecidos pela lei brasileira. A companhia também não vê nenhum problema no fato de que suas instalações estarem no mesmo prédio onde funciona a representação do grupo estrangeiro no País. Pelos registros da Jucesp e do Ministério das Comunicações, entretanto, a Rádio Disney operaria no endereço de sua controladora, a Rádio Holding. “A Rádio Disney funciona no mesmo edifício da The Walt Disney Company Brasil, porém em outro andar, com espaço exclusivo e independente”, diz em nota a emissora. Assim, toda a sintonia da rádio com o grupo The Walt Disney Company – os mesmos executivos, o mesmo endereço e, provavelmente, até os mesmos acionistas – seria não mais que uma agradável coincidência para os sócios de PHC.

 

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O câncer de Lula e o câncer da Veja

Acima, a capa da Veja que começou a circular hoje.

Este é Lula, quatro dias atrás.

Por que Veja retrata Lula cinzento e abatido se, apesar da doença, ele está bem humorado e sua condição física é boa?

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Aécio “Propaganda” Neves critica políticos que se moldam

Como Minas, Aécio são muitos

De Aécio Neves hoje em seu artigo semanal na Folha de S.Paulo:

“Está clara a busca coletiva por uma nova ordem que permita a superação de modelos que sobreviveram até aqui, entre eles os de políticos que se moldam, por conveniência, ao gosto do eleitorado, ou, mais pretensiosos, que tentam moldar o eleitorado à sua feição.”

“O grande desafio da vida pública é este: não se deixar transformar num personagem condenado a seduzir a platéia. Não se deixar transformar numa caricatura de si mesmo.”

Espantoso!

No pós-ditadura, Aécio é, depois de Fernando Collor, o político mais pré-fabricado da cena nacional. Esculpido de modo eficiente pela jornalista Andrea Neves (a verdadeira herdeira da malícia política do avô Tancredo Neves), o personagem encarnado por Aécio procura ecoar Juscelino Kubitschek (bon vivant, amigo dos artistas e galanteador) e o próprio Tancredo (conciliador). Tudo isso embalado por um verniz de gestor eminentemente técnico, em contraposição aos políticos tradicionais.

Com uma substancial ajuda da mídia anti-PT e também da mídia pró-PT, que vê no fortalecimento de Aécio um modo de criar dificuldades para José Serra, Aécio tem conseguido, até aqui, sustentar seu personagem com grande sucesso. Contudo, aqui e acolá, à medida que Serra vai se firmando como carta fora do baralho em 2014, o personagem de Aécio começa a ser questionado, tanto na blogosfera quanto por vozes independentes da imprensa (vide a coluna “É isso, Aécio?”, do jornalista Ricardo Melo, publicada na própria Folha no último dia 13).

Pela coluna de hoje da Folha, Aécio, cujo nome do meio é propaganda, aposta que conseguirá sustentar seu personagem até 2014. O tempo dirá.

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Agenda

Convido para um dedo de prosa aos que puderem prestigiar os eventos em que estarei em outubro e novembro.

9 de outubro (domingo)

Diamantina (MG)

Festival de História (fHist), promovido pela Revista de História da Biblioteca Nacional. Debaterei com Eduardo Bueno e Sérgio Bandeira de Mello, com mediação de Oldimar Cardoso, o tema “História para muitos”. Horário: 17h. Local: Tenda dos historiadores

24 de outubro (segunda-feira)

Sete Lagoas (MG)

Debate e lançamento do livro Boa Ventura!, organizado pela Prefeitura de Sete Lagoas. Horário: 19h. Local: Casa da Cultura (av. Getúlio Vargas, 91, Centro).

10 de novembro (quinta-feira)

São Paulo

Seminário Internacional de Jornalismo, promovido pela revista Imprensa. Farei o papel de mediador na mesa “O DNA da reportagem”, com a presença do correspondente de guerras norte-americano David Rohde, da Reuters. Horário: 19h30. Local: a definir

13 de novembro (domingo)

Ouro Preto (MG)

Fórum das Letras, promovido pela UFOP. Debaterei com Frei Betto e Ângelo Oswaldo as Minas Gerais do ciclo do ouro no século XVIII. Horário: 15h. Local: a definir

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O que Ernesto Varela diria do CQC?

Muito bom o artigo abaixo da Lola Aronovich sobre o caso Rafinha Bastos.

Nos últimos dias, tenho me perguntado: por que Marcelo Tass continua à frente do CQC? Tas tem um passado digno. Criou o impagável (mas sempre elegante) repórter ficcional Ernesto Varela e fez parte das equipes que bolaram e desenvolveram o “Rá-Tim-Bum” (TV Cultura), “Programa Legal” e “Telecurso” (TV Globo). Não precisava agora ancorar, às gargalhadas, Rafinha Bastos e outros, que fazem grosseria na TV para vender lâmina de barbear. Tas sempre foi maior que o CQC. Mas, ao dividir a bancada com Rafinha Bastos, se apequena.

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Rafinha suspenso do CQC por ofender gente que importa

Lola Aronovich, do blog Escreva Lola Escreva

Fico feliz que o humorista Rafinha Bastos tenha sido suspenso do CQC. Por mim, ele poderia ir pros States fazer stand up comedy (seu sonho), e não voltar mais. Porém, a direção da Band ainda não sabe se ele retornará ou não ao programa. Talvez seja desnecessário que eu diga que, por mim, todo o elenco do CQC poderia ir passear nos EUA e ficar por lá. Eu gostaria que houvesse alternativas inteligentes na TV. O CQC não é alternativa de nada. É mais do mesmo, um eterno perpetuador de preconceitos.

Mas vamos a uma rápida recapitulação do que Rafinha aprontou nos últimos meses, dentro e fora do CQC:

– Em maio, na sua casa de shows, fez a infame piada do estupro, reproduzida na revista Rolling Stones: “Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço”.
– Ainda em maio, os três integrantes do CQC 3.0, mas principalmente Rafinha, ridicularizaram os mamaços e a amamentação em público, dizendo e rindo das seguintes asneiras: mães que amamentam à luz do dia devem jogar um lencinho em cima ou ir ao banheiro, e não “enfiar a teta nas caras das pessoas”; mamilo parece rocambole; quem “mostra a teta é quem não deveria mostrar. Nunca é aquela gostosa […], é aquela mulher que não precisa de um sutiã, precisa de joelheira”. (Lembrando apenas que Marcelo Tas não gostou da minha crítica e ameaçou me processar. Retratar-se por ser a principal cara de um programa que insulta mães, jamais. Ameaçar com processo judicial quem discorda, tudo bem).
– Em agosto, Rafinha mirou contra Daniela Albuquerque, apresentadora da RedeTV: “Se fosse eu já dava uma cotovelada. É octógono, cadela! Põe esse nariz no lugar”.
– Na semana passada, Rafinha falou sobre Wanessa Camargo grávida: “Eu comeria ela e o bebê. Não tô nem aí”.
Esqueci alguma pérola da “figura mais influente do Twitter”, desse campeão do preconceito escancarado, digo, do politicamente incorreto? Vejamos quais foram os alvos dessas piadas: mulheres feias, vítimas de estupro, mães feias, mulheres que amamentam em público, mulheres exibicionistas, Daniela, Wanessa e o feto que carrega.
Ok. Por mais que as pessoas sensatas estejam comemorando a suspensão de Rafinha, convém lembrar que o CQC em geral, e Rafinha em particular, se desculparam em apenas duas ocasiões. Pela piada de estupro, Rafinha foi chamado a depor pelo Ministério Público, não quis falar nada à imprensa, e insistiu que sua profissão é mesmo fazer humor. Sobre amamentação em público, o CQC 3.0, mais uma vez, se fez de tapado e disse que seus integrantes são a favor da amamentação ― como se tivesse sido esta a questão (ademais, quem tira sarro de mulheres que amamentam em público, por tabela, condena a amamentação).
Já pela grosseria que cometeu contra Daniela Albuquerque, Rafinha pediu perdão. Por quê? Ahn, não por ter chamado uma mulher de cadela ou por usar linguagem violenta (“eu já dava uma cotovelada”), mas porque Daniela não é uma mulher qualquer (já que ofender uma mulher sem nome e em marido influente tá liberado) — ela é esposa do dono da RedeTV.
A gota d’água foi esse chiste com Wanessa Camargo. Por causa da piadinha, o astro do futebol Ronaldo, que é sócio de Marcus Buaiz, marido da cantora, decidiu se afastar do CQC. Hélio Vargas, diretor artístico e de programação, ligou pessoalmente para Buaiz para pedir desculpas. Na sexta, e só na sexta, um dos integrantes do CQC, Marco Luque, amigo de Marcus, divulgou uma nota que merece ser lida: “Sobre a piada feita pelo Rafinha Bastos, no programa ‘CQC’ que foi ao ar no dia 19 de setembro, eu, como pai, entendo e apoio a revolta e a indignação do Marcus Buaiz, um homem que conheço e respeito. Se fizessem uma piada com este contexto sobre a minha família, certamente ficaria ofendido. Com certeza uma piada idiota e de muito mau gosto”.
Ué, mas não era “só uma piada”? Não eram apenas as feminazis radicais que invocavam com o pobre comediante, impedindo-o de fazer humor e prosperar na sua profissão? Não era que qualquer crítica a uma piada era censura? Não era que o humor não deve ter limites? O que mudou? Deus mandou um memorando à população e esqueceram de me avisar?
O mais interessante na nota de Luque é que ele não parece se importar muito com os alvos da piada de “muito mau gosto”, que seriam, afinal, Wanessa e o bebê dela. Ele nem cita Wanessa na nota. E obviamente que ele não se revolta pela piada por atingir tantas gestantes anônimas. Não, nada disso. Ele reprova a piada “como pai”, e entende a indignação não de Wanessa, de mulheres em geral e de feministas em particular, mas do marido de Wanessa, que — ele sim — Luque conhece e respeita.
É fascinante que todas as vezes que as tiradas rafísticas causaram furor a ponto de merecerem pedido de desculpas foram quando homens se chatearam: o dono da Rede TV, marido de Daniela; Ronaldo, amigo de Marcus; Marcus, marido de Wanessa; Luque, amigo de Marcus. Foi mal aí, amigos e colegas, pais e maridos!
Sabe o que isso lembra, né? Lembra épocas não tão antigas em que um homem podia devolver a esposa ao pai se descobrisse que ela não era mais virgem. Em que o estuprador de uma mulher tinha que indenizar o marido. Em que aos homens permitia-se tudo, desde que não danificasse a propriedade masculina, e às mulheres, nada.
É este o recado passado agora pela emissora, pela mídia, que nem aponta essa “coincidência” de desculpas só serem pedidas a maridos, e pelo silêncio cúmplice dos outros integrantes do programa: sim, Rafinha errou, e será punido por isso. Ele ofendeu homens.

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