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Escândalo no Ministério dos Esportes: Kotscho enxerga mais longe

Ao escrever sobre os escândalos no Ministério dos Esportes, Ricardo Kotscho, mais uma vez, é uma voz sensata que distoa do maniqueísmo geral que assola a imprensa e a internet, dividida hoje entre os que adoram Dilma e os que odeiam Dilma.

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Kotscho: "nem Dilma Rousseff aguenta mais este troca-troca de seis por meia dúzia"

Dilma precisa começar um novo ciclo político

Ricardo Kotscho, do Balaio do Kotscho

A já esperada troca de Orlando Silva por Aldo Rebelo, ambos do PCdoB, no Ministério do Esporte pode ser o último capítulo de um ciclo político, o do presidencialismo de coalização, inaugurado após a redemocratização do país pelo governo acidental de José Sarney, em 1985, e que está com o prazo de validade vencido.

A sociedade brasileira clama por uma nova forma de fazer política e montar governos, que não seja baseada apenas em verbas e cargos, com o loteamento da Esplanada dos Ministérios em cotas partidárias no sistema de “porteira fechada”.

Com certeza, nem Dilma Rousseff aguenta mais este troca-troca de seis por meia dúzia. Em menos de dez meses de governo, a presidente já se viu obrigada a dar a conta a seis ministros de diferentes partidos, sem conseguir montar uma equipe minimamente coesa e competente para administrar o país.

Tudo bem que Dilma se elegeu a bordo de uma monumental coligação partidária e governa praticamente sem oposição, mas nem assim ela consegue ter uma semana de paz para se dedicar às grandes questões nacionais.

A maior parte do tempo da presidente neste seu primeiro ano foi dedicada à administração de crises provocadas por denúncias de corrupção em diferentes ministérios _ ou melhor, de “malfeitos’, como ela prefere.

O fato é que a pauta política foi dominada pelo cai-cai e a substituição de ministros, o que não resolveu nenhum dos problemas anteriores e criou outros. Nos últimos cinco meses, isto aconteceu uma vez a cada 50 dias.

Ninguém consegue governar o país desse jeito. Como nenhum partido reúne condições de governar o Brasil sozinho, é evidente que qualquer governo precisa montar alianças para se eleger e ter maioria no Congresso.

O problema é que não dá mais para utilizar os mesmos métodos do toma-lá-dá-cá que está na raiz de todos os escândalos passados, presentes _ e, se nada for feito, futuros.

Cabe a Dilma Rousseff, agora, com a força do apoio popular que as pesquisas demonstram, dar um basta a essa situação, enterrar esse ciclo.

Para isso, precisa estabelecer novos critérios na construção de uma nova maioria _ de preferência, com gente decente _  e estabelecer os requisitos mínimos de competência, probidade e compromissos com o país, tanto de partidos como dos nomes indicados para os ministérios.

Se o fizer logo, passa para a história. Se adiar por muito tempo, por mais concessões que faça, não terá assegurada a tão falada governabilidade _ ao contrário, poderá ver esvaziado o seu poder e inviabilizar a reeleição.

Em vez de ficar a reboque dos fatos e remontar seu governo no varejo partidário cada vez que um ministro inviabiliza sua própria permanência, a presidente Dilma poderia aproveitar a anunciada reforma ministerial prevista para janeiro e, desta vez, agir no atacado.

Por que os mesmos partidos têm que ficar para sempre com os mesmos ministérios, perenizando as mesmas práticas, apenas trocando Orlando por Aldo ou Pedro por Gastão? Onde está escrito isso?

Gostaria de ver a presidente Dilma fazer a primeira reunião ministerial de 2012, após a reforma, com caras e propostas novas capazes de dar novas esperanças aos brasileiros que votaram e confiam nela para devolver dignidade e honradez à atividade política.

Fazer um governo de continuidade como este para o qual ela foi eleita em 2010, graças ao apoio decisivo do então presidente Lula e dos seus 80% de aprovação popular, não significa que nada possa ser mudado.

Ao contrário, para preservar as conquistas sociais e econômicas da última década, é preciso criar novas bases para a relação entre o governo, os partidos e a sociedade, aprimorar os controles na administração e avançar na direção de um enfrentamento permanente aos maus hábitos de privatização pessoal e partidária dos recursos públicos.

É enorme, eu sei, o desafio colocado para a presidente que nunca sonhou em ser presidente, mas os últimos dias, semanas e meses demonstraram à exaustão que não é possível eternizar esse sistema político viciado, emendando uma crise na outra.

Não há escolha: é mudar ou mudar e dar início a um novo ciclo político. Quem pode dar o sinal e o exemplo é a presidente da República, Dilma Rousseff.

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Sai Orlando; fica o PCdoB. Resolve ou a sujeira continua?

Aldo Rebelo, novo ministro dos Esportes

Enquanto o grosso do noticiário continua centrando na figura de Orlando Silva os escândalos do Ministério dos Esportes, o PCdoB, real foco do problema, segue no comando da pasta. Hoje, Aldo Rebelo, deputado federal pelo PCdoB de São Paulo, foi confirmado como novo ministro dos Esportes.

A questão agora é: sem Orlando e com Aldo, o dinheiro público manejado pela pasta continuará a escorrer para o ralo de ONGs picaretas sob comando do PCdoB?

(ATUALIZAÇÃO: Só Freud explica o motivo de, neste post, mais uma vez, eu ter trocado Ministério dos Esportes por Ministério dos Transportes. Erro corrigido, graças à vigilância dos leitores, a quem agradeço)

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Por que o blog incomoda?

O post Malandro pode até entrar no blog. Mas de forma respeitosa. E com nome verdadeiro suscitou um interessante comentário do leitor Xandão e uma ótima oportunidade para o debate. Transcrevo-o abaixo e em seguida faço a réplica:

 

Lucas, eu tenho nome, e está no email que você vê. Meu nick é velho na rede. Sou do Rio, só pra contextualizar e mostrar que não tenho nada a ver com o Aécio, já que não moro no Leblon e não gosto de políticos. Agora, eu percebo um antiaecismo temperado com um pró-Serrismo bem aparente no que você escreve. Serei deletado por conta disso? Tem que odiar o Aécio pra ler o seu blog?

Xandão

 

Prezado Xandão

Apesar de sua costumeira discordância em relação ao blog, você nunca teve comentários barrados neste espaço, como você bem sabe. Este é um espaço para o debate. E para os que querem debater de verdade é facultada inclusive a possibilidade de usar pseudônimos ou assinar “anônimo”. O que não permito é que se use o anonimato para desfiar insolências contra quem quer que seja (o que diga-se de passagem nunca foi o seu caso).

Vamos então ao debate.

Aponte, por favor, o viés pró-Serra no blog. Não consigo vê-lo. Provo, ao contrário, que aqui já se fez críticas ácidas a Serra (veja, por exemplo, os posts Serra vai serra abaixo; Serra tenta dar uma de malandro e faz papel de otário; O enterro de luxo de José SerraEncaixotando Serra).

Este é um blog que exercita a crítica com gosto. Quando é o caso, critica Dilma, critica Lula, critica o PT… Nos últimos posts você verá que o PCdoB aqui não foi poupado. Houve claro, nesses casos, muitos que não gostaram. E aqui mesmo manifestaram discordância.

As grandes questões, Xandão, são:

. Por que não se pode criticar Aécio?

. Por que em vez de debater o que foi publicado em relação a Aécio no blog os críticos tentar apenas desqualificar o autor do blog?

. De onde vem a onda que ataca aqueles que, como eu, furam o cerco da censura e do compadrio que protegem Aécio na imprensa?

Estão aí três questões que também valem um debate.

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Everybody fears Dilma

O ministro Orlando Silva (Esportes) foi chamado agora há pouco para uma conversa com a presidente Dilma no Palácio do Planalto. Orlando encontrará Dilma como a vemos na foto acima, feita hoje: ela está cansada da viagem à África, furiosa com as lambanças do PCdoB no Ministério dos Transportes, mais furiosa ainda com a notícia divulgada hoje à tarde pelo site do Estado de S.Paulo (Mulher do ministro recebe dinheiro do governo por meio de uma ONG ligada ao PCdoB) e muitíssimo mais furiosa com a Fifa, que rejeitou Orlando Silva como interlocutor.

Orlando vai ter de cantar bonito para sair desse enrosco.

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A caixa de pandora do PCdoB

Infelizmente, as graves denúncias que envolvem suspeitas de desvio de dinheiro de programas sociais do Ministério dos Esportes vêm sendo reduzidas, por parte da mídia, a um jogo. De um lado, Orlando Silva, o acusado . De outro, João Dias Ferreira, o acusador.

Enquanto o caso fica concentrado nesses dois personagens, com uma única questão (Quem está dizendo a verdade?), o grande problema vai se diluíndo. O que realmente importa saber é:

1) Quais são as entidades e pessoas ligadas ao PCdoB que têm acesso às verbas do Ministério dos Esportes?

2) Há desvio? Quem ganhou e quem ganha com ele?

3) O dinheiro desviado foi ou é canalizado para projetos políticos e eleitorais do PCdoB?

O grande personagem do escândalo da hora não é Orlando Silva. É o PCdoB. A grande pergunta em jogo não é se Orlando Silva recebeu ou não uma caixa com dinheiro na garagem do ministério. A questão é: o Partido Comunista do Brasil desvia dinheiro do Ministério dos Esportes para fazer caixa?

Está na hora de abrir essa caixa de pandora.

(ATUALIZAÇÃO: Neste post, troquei três vezes Ministério dos Esportes por Ministério dos Transportes, equívoco já corrigido, graças ao alerta dos leitores, a quem agradeço.)

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A teta gorda do PCdoB de Orlando Silva

Orlando Silva: a última canção?

É obvio que as denúncias contra o ministro dos Esportes, Orlando Silva, estão sendo insufladas por gente interessada em fragilizar a presidente Dilma Rousseff.

E é óbvio ainda que entre os denunciantes há pessoas que almejam o lugar de quem está desviando o dinheiro do ministério.

Mas é óbvio também, e já o era há muito tempo, que o Ministério dos Esportes é uma teta gorda onde mama o PCdoB de Orlando Silva. E que o esporte que se pratica ali, com muita desenvoltura, é a corrupção.

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Mares Guia opera

Reunião de tucanos e “socialistas” hoje em BH: na cabeceira, tomando nota, Mares Guia

Nos últimos dias, distraído, o noticiário voltou a esbarrar num personagem dos mais enigmáticos da fauna política nacional: Walfrido dos Mares Guia.

Ex-ministro de Lula (Turismo e, depois, Relações Institucionais), raposa política mineira (espécie em extinção), Mares Guia havia encenado uma saída de cena, em 2007, quando seu nome apareceu no escândalo do mensalão do PSDB mineiro. Um azar – que fique registrado – ele ter deixado o governo Lula naquela época e, ato contínuo, ter sumido, pois era o homem talhado para contar como se dera o “nascimento” de Marcos Valério. Em 1998, Mares Guia fora o coordenador de fato da campanha à reeleição do então governador de Minas Gerais, o tucano Eduardo Azeredo, campanha esta que tirou do limbo um pobretão desimportante chamado Marcos Valério e o elevou à condição de operador de caixa dois de campanhas eleitorais. Naquela empreitada política, com escrevi no meu livro O Operador, Mares Guia discutia e Marcos Valério pagava.

Pois bem, na semana passada o novo ministro do Turismo, Gastão Veira, veio trazer à luz outros feitos de Mares Guia. Em entrevista à Folha de S.Paulo, Vieira foi questionado sobre o porquê de, seguidamente, as emendas do Orçamento da União darem origem a desvios no Ministério do Turismo. Vieira respondeu: “O ministério nasce assim. Não estou criticando, mas o ministério nasce com um grande trabalho do [ex-] ministro Walfrido dos Mares Guia, que usou seu prestígio para conseguir emenda, porque praticamente não tinha orçamento”.

Hoje, em Belo Horizonte, exercitando um de seus dons, a onipresença, Mares Guia apareceu ao lado de tucanos e comunistas, em dois eventos diferentes, a articular a reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), produto de uma exótica parceria PSDB-PT-PSB. Como de costume, Mares Guia não fez barulho, não deu declarações bombásticas, não demonstrou o imenso poder que tem. Esfinge, camaleão, misturou-se aos demais presentes dando a impressão de que era apenas mais um na foto (vejam as imagens). Não era! Walfrido é o pai da criança (dessa e de outras).

Outra reunião política ocorrida hoje em BH, desta vez entre comunistas e “socialistas”. No canto direito, ele, Mares Guia

Um mistério de Minas (mais um): um empresário milionário (Mares Guia) dirigente de um partido “socialista” (o PSB) consegue unir Lula e Aécio Neves (dois possíveis candidatos a presidente em 2014 e 2018) e os comunistas do PCdoB num mesmo projeto político. Vai entender qual o cimenta dessa estrovenga.

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Quando o jornalismo incomoda

Para escribas do PCdoB, a reportagem de capa de CartaCapital desta semana, de minha autoria, está repleta de “desinformação”, “descaso”, “preconceito”, “artificialismo”, “confusão primária” e “devaneio”. Queriam que eu encontrasse um super-herói em Maurício Grabois, mas seu diário revela apenas um homem.

Vinda de dois flancos que se abrigam numa mesma trincheira, recebi uma saraivada de críticas por conta da reportagem de capa da CartaCapital desta semana, de minha autoria. Na matéria, destrincho o até então inédito diário que o comandante da Guerrilha do Araguaia, Maurício Grabois, escreveu entre abril de 1972 e dezembro de 1973 em seus esconderijos na mata. O diário é um documento histórico de grande importância pois cobre 605 dias de luta no Araguaia.

O portal Vermelho.org, ponta de lança do PCdoB na internet, publicou um editorial em que me acusa de praticar “mau jornalismo” e de dar um “tratamento indigno” a Grabois – “um herói do povo brasileiro”, como define o portal. Destaco em negrito dois parágrafos mais contundentes. E, abaixo de cada um, teço algumas considerações:

“O mau jornalista descreve Grabois como um homem parcial, visionário, despreparado e mesmo crédulo, embora exigente com seus subordinados – alegações que são desfeitas, uma a uma, pela leitura do diário.”

No diário lido pelo editorialista do PCdoB, há um “herói”. No diário que eu li, há um ser humano que tem defeitos, limites e fraquezas, como qualquer outro. Como se trata do mesmo documento, o melhor que o leitor pode fazer é tirar a prova dos nove lendo ele mesmo o diário.

“Sua memória <a de Grabois> não será manchada pela miopia e o julgamento raso de um repórter, que de resto se revelou mais sensível para com as razões dos militares que esmagaram a guerrilha no quadro da guerra que naquela altura as Forças Armadas empreendiam contra o povo.”

Aqui, o PCdoB utiliza a velha tática reducionista: quem não está do “nosso lado” só pode estar “contra o povo” e do lado dos militares que patrocinaram os 21 anos de ditadura no Brasil. Tenho dois livros-reportagem que tratam do tema ditadura, ambos laureados com o Prêmio Vladimir Herzog, e acredito que eles falam por mim. O que talvez o editorialista do PCdoB não entenda é que, sim, é possível um jornalista ser, ao mesmo tempo, crítico em relação a militares e crítico em relação a comunistas.

O outro texto que me ataca (Maurício Grabois e os devaneios de um jornalista da CartaCapital), publicado no mesmo Vermelho.org e no blog do Luis Nassif é assinado por Osvaldo Bertolino, que se apresenta como jornalista, pesquisador da Fundação Maurício Grabois, editor do portal Grabois.org.br e biógrafo de Maurício Grabois.

Bertolino começa tentando desqualificar o furo de CartaCapital ao dizer que o assunto do diário “não é novo”. Ele mesmo, antes de mim, já teria recebido anonimamente trechos do diário, mas não os utilizara dada a “impossibilidade de verificar a veracidade do documento”. Pois eu consegui verificar a veracidade do documento e fui o primeiro a torná-lo público, na íntegra, no site de CartaCapital (aqui na versão original e aqui na versão explicativa).

Em seu texto, Bertolino se revela um apaixonado por seu objeto de estudo, condição perigosa para um pesquisador. O comandante da guerrilha seria “um homem à frente do seu tempo” e que vivia “totalmente envolvido” na “luta pelo futuro”. Para Bertolino, Grabois fazia parte de uma casta especial, a dos “verdadeiros heróis” – de novo aparece a tal palavra: “herói”.

Desinformação, descaso, preconceito, artificialismo, confusão primária, devaneio… Tudo isso está em mim e na minha reportagem, segundo ele. Não importa o fato – fato, repito – de que, nas 150 páginas datilografadas de seu diário, Grabois tenha feito 113 menções a comida (e não apenas quando ela faltava, mas também quando raleava, empobrecia, enriquecia ou sustentava um banquete). Para Bertolino, escrever o óbvio – Grabois se mostrou um obcecado por comida – significa “atacar” o mito do PCdoB.

Ainda de acordo com Bertolino, é um “descaso” de minha parte relatar que, de seu esconderijo na mata, Grabois ouvia a propaganda comunista da Rádio Tirana, da Albânia, e a tomava por “melhor fonte de informações” sobre a Guerrilha do Araguaia. Não sei como poderia ter feito diferente se foi o próprio Grabois quem escreveu que a Tirana era sua “melhor fonte de informações”.

Acusa-me o apaixonado biógrafo de cair em devaneio ao dizer que o veterano dirigente do PCdoB se revelava um iludido em relação às “massas” (expressão de Grabois) que pretendia recrutar no Araguaia. Deixemos que o diário fale por si. No dia 21 de maio de 1972, Maurício Grabois escreveu o seguinte: “Aqui <no Araguaia>, temos que intensificar a propaganda revolucionária, recrutar novos co <combatentes> para as Forças Guerrilheiras e amigos para a nossa causa. E isso não é difícil de realizar. As condições parecem favoráveis”.

O último parágrafo do texto de Bertolino, transcrito abaixo em negrito, talvez seja o mais revelador de sua real intenção:

“Morreu <Maurício Grabois> por ser digno, honesto em uma era de desonestos, corajoso nesse tempo de covardes, limpo em um século de sujeiras. Eu aqui, da minha insignificância, Grabois, te beijo a mão comovido – como se beijasse a mão da própria dignidade humana personalizada.”

Se sua intenção, Bertolino, é pintar um deus onde há apenas um homem, não conte mesmo comigo.

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Bafometrogate dá voz à oposição a Aécio, que quer CPI em Minas

Aécio: a angústia do centroavante diante da zaga adversária

Nos oito anos de seu mandato à frente do Governo de Minas (2003-2010), Aécio Neves (PSDB) não precisou enfrentar zagueiros. Era blindado pela imprensa local e adulado pela nacional. Dava-se bem com o PT de Lula e, em Minas, mantinha boas relações com a Justiça, com o Ministério Público e com o Tribunal de Contas. E controlava a Assembléia Legislativa.

Alguma coisa começa a mudar.

Desde que estourou o Bafometrogate, a oposição a Aécio em Minas vem encontrando brechas para fazer… oposição. Formado neste ano por deputados estaduais do PT, PMDB, PCdoB e PRB, o bloco Minas Sem Censura – nome que mira o calcanhar de Aquiles de Aécio – conseguiu uma visibilidade até então inédita para as ações de oposição ao mais forte nome tucano para a eleição presidencial de 2014.

Depois de ganhar espaço nobre no blog Vi o Mundo, de Luiz Carlos Azenha, o bloco emplacou ontem reportagem na Folha.com (um dos principais portais de notícias do país) com um título forte: Oposição em MG tenta criar CPI sobre repasses a rádio de Aécio. Pode parecer pouco, mas não é. O nome de Aécio e a sigla CPI numa mesma frase é algo que, para muitos em Minas, soa como blasfêmia.

A oposição a Aécio quer investigar os repasses de verba pública para a Rádio Arco Íris (retransmissora da Jovem Pan em Belo Horizonte), emissora da família Neves da qual Aécio passou a ser sócio após a eleição do ano passado. Em 2010, a rádio recebeu R$ 210 mil de verba do governo mineiro e de suas empresas, oitava maior fatia de publicidade oficial entre as emissoras do Estado. O montante não parece excepcional, tendo em vista que a Jovem Pan é uma das líderes de audiência na capital mineira. Chama menos a atenção o valor e mais a desenvoltura da oposição, que diz ter 23 das 26 assinaturas necessárias para entrar com o pedido de CPI.

Se, conforme os números divulgados pelo Governo de Minas, a verba pública recebida pela rádio de Aécio não parece exorbitante, isso não significa, porém, que não deva ser investigada a emissora – uma concessão pública, não custa lembrar. Aqui mesmo no blog já foram levantadas quatro perguntas relacionadas à rádio que o senador tucano precisa responder:

* Se a emissora pertence à família Neves “há quase 20 anos”, por que só agora, depois da eleição, Aécio se tornou sócio dela?

* Por que antes de Aécio figurar como sócio da emissora seu carro pessoal, o Land Rover que dirigia quando foi pego na blitz, estava em nome da rádio?

* Por que outros quatro carros de luxo, além da Land Rover de Aécio, estão em nome da emissora (um Audi A6, outra Land Rover e duas camionetes)?

* Quem utiliza os carros?

A oposição a Aécio pode não ter conseguido ainda munição suficiente para emparedar o tucano. Difícil também será obter os votos necessários para abrir a CPI numa Assembléia em que o PSDB é hegemônico. Mas, ao mirar a rádio, o Minas Sem Censura mostra que tem pontaria.

Um mês exato antes de Aécio ser parado na blitz, escrevi aqui que o bloco Minas Sem Censura seria uma pedra no caminho de Aécio. Já é.

Comentários desativados em Bafometrogate dá voz à oposição a Aécio, que quer CPI em Minas

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