
Aécio surfa bem em mar bravio?
Imediatamente após a eleição do ano passado, Aécio Neves começou a ser apontado como líder maior da oposição e candidato natural do PSDB à Presidência em 2014. Nos quatro meses seguintes, o mineiro gastou toda a sua energia para acabar de enterrar o colega tucano José Serra e com isso fazer valer a profecia. Agora, finalmente, Aécio se apresenta.
Na sexta-feira, o senador mineiro levantou sua voz contra o governo do PT, chamando para si o papel de líder das oposições. Ao comentar o rolo compressor do governo na votação do salário mínimo na Câmara, Aécio disse, num estilo pouco comum a ele: “Um governo que assume dando ordens ao Congresso Nacional traz consigo um viés autoritário, não é bom para a democracia”. Nenhum outro membro da oposição bateu tão forte, incluindo os melhores zagueiros e as maiores estrelas.
Curioso é que Aécio teve uma posição amena nas articulações do salário mínino. Ciente do momento histórico, porém, ele teve presença para faturar no momento certo, o do desfecho da novela (Tancredo treinou bem o discípulo).
A base governista reagiu. “Pelo visto, ele <Aécio> quer competir com o Tiririca como comediante”, comentou o deputado paulista e ex-presidente do PT Ricardo Berzoini, referindo-se ao fato de que, no período em que governou Minas (2003-2010), o tucano usou e abusou de leis delegadas –“a pior forma de desprezar o Legislativo”, definiu Berzoini.
Tanto a ação de Aécio quanto a reação do PT suscitam três perguntas?
1) Aécio terá forças para segurar o rojão de líder-mor oposição contra um governo forte como promete ser o de Dilma Rousseff?
O tucano sempre remou com a corrente a favor. Foi da base do governo Sarney (1985-1990), foi oposição no frágil e detestável governo Collor (1990-92), foi novamente governo nas gestões Itamar Franco (1992-1994) e FHC (1995-2002) e, graças à blindagem da imprensa mineira e à boa vontade monumental da imprensa nacional, surfou sem maiores dificuldades nos oito anos de seu governo em Minas. Aécio sempre foi o conciliador, o amigo de Lula, o político que conseguia unir PT e PSDB numa mesma chapa. Agora não dá mais. O PT está num lado do ringue, e Aécio, no outro. Até 2014, será pau puro. Se o mineiro quiser mesmo ser eleito presidente na próxima eleição, precisará desalojar uma verdadeira máquina de grudar no poder, o PT.
2) O PT assistirá a ascensão de Aécio sem uma reação mais forte?
Como já foi dito aqui, Aécio só foi na boa até agora. Nunca teve de enfrentar oponentes à altura. Mas agora terá pela frente Dilma e o PT, ambos imbuídos de disposição e ferocidade samurais. Para chegar e permanecer no Planalto, o PT deixou muitos corpos destroçados no campo de batalha do adversário. Sabe fazê-lo e, pior, gosta de fazê-lo.
3) Agora que conseguiu, pelo menos por ora, solapar José Serra e se apresentar como super candidato na eleição de 2014, Aécio continuará gozando da condição de “carta branca” na imprensa?
Pense rápido. Você já leu nos jornalões e revistonas, ouviu no rádio ou assistiu na TV alguma reportagem mais profunda sobre Aécio? Alguma matéria que apresente não apenas suas muitas e grandes virtudes, mas também alguma fraqueza ou mesmo um tombo na vida pública? Acostumada a buscar pêlo em ovo, a grande imprensa foi incapaz até agora de apontar um deslize sequer de Aécio nos seus 16 anos como deputado federal ou nos oito como governador. Convenhamos, nem Gandhi ou Madre Teresa de Calcutá foram tão imaculados.
É certo que a porção da imprensa anti-petista – ou, no caso de Minas, da aecista – continuará protegendo o tucano. Mas há também a imprensa independente, a puro-serrista e a lulo-dilmista. Esta última, até agora, tem preservado ou mesmo inflado Aécio porque isso contribuía fortemente para a débâcle de Serra. Mas, com Serra fora do baralho, num confronto direto de Aécio com Dilma ou, quem sabe?, com Lula, o jogo poder mudar. (Leio agora, no blog de Paulo Henrique Amorim, até então suave com o mineiro, a seguinte nota: “Aécio, o autoritário, chama Dilma de autoritária”. )
Aécio é um craque, mas o craque agora quer jogar a Copa do Mundo com a camisa 10. Como no futebol, o resultado final é uma caixinha de surpresas.
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