A TV alemã RTL levou ao ar uma reportagem sobre o funeral de Amy Wineshouse, em Londres, na qual, por engano, dá voz a Daniel Zukerman e André Machado, humoristas do Pânico, da Rede TV, que se faziam passar por pessoas próximas à família da cantora. “Amy modificou o mundo. Perdemos uma amiga, a melhor cantora, e é difícil de explicar como foi isso”, diz Daniel, fingindo dor. A seu lado, André se esforça para conter o riso.
Realmente hilário.
Será mesmo?
(Atualização: o vídeo que postei originalmente foi cortado do YouTube, mas já coloquei uma nova cópia)
Homer Simpson só é engraçado no desenho. Na vida real, é um atraso
Ontem, dois textos do blog – O humor abutre do programa Pânico e Com “jornalismo justiceiro”, CQC desrespeita Renan Calheiros e o Senado – mereceram quase trinta comentários dos leitores. A maioria, de aprovação. Uma parcela significativa, porém, era de contestação, na verdade de raivosa contestação (“Hipócrita”, “falso moralista”, “advogado do diabo”, “esse blog é um lixo” e alguns outros impublicáveis, que, por descambarem para um palavreado chulo, acabaram vetados).
Essa é lógica que mantém no ar a baixaria na TV. Uma parcela do público vive uma verdadeira catarse ao ver, na telinha, políticos serem humilhados ou jankies como Amy Winehouse serem enxovalhadas. “Politicada não merece respeito”, escreveu Felipe. A morte de uma drogada “é engraçada”, opinou um leitor anônimo. É o mesmo público que replica o preconceito contra gays, muçulmanos, obesos e outros tipos “anormais”.
Continuo acreditando que, independentemente de quem seja o defunto, um funeral não é o evento apropriado para se aplicar pegadinhas. E o Senado, mesmo que esteja infestado de gente como Renan Calheiros e José Sarney, é uma instituição que merece respeito e não um palco para stand-ups.
É triste ver os espertos da TV baixarem o nível para faturar uma grana alta. Mas é mais triste ainda ver que isso só acontece porque, do outro lado da tela, no sofá, uma parcela da sociedade a-d-o-r-a consumir detrito preconceituoso.
Daniel Zukerman e André Machado, do Pânico: escárnio com a dor alheia em quatro poses
Por motivos que qualquer um pode facilmente entender, a família de Amy Winehouse desejava um pouco de paz e discrição na cerimônia de adeus à cantora. O funeral era para ser um evento fechado, somente para parentes e amigos próximos. Era…
O programa Pânico, da Rede TV, contudo, preferiu perder a compostura a perder a piada (sim, para eles, uma morte trágica pode ser uma piada). Daniel Zukerman e André Machado, integrantes do Pânico, conseguiram se infiltrar na cerimônia religiosa de intenção a Amy, em Londres. Usando kipás – o pequeno chapéu dos judeus (a família de Amy é judia) – os dois humoristas (!?) fizeram poses de dor e sofrimento a fim de atrair o flash dos fotógrafos. Conseguiram.
Distribuída por agências internacionais, a imagem da dupla correu o mundo, divulgada erroneamente como símbolo da dor das pessoas próximas a Amy.
Já se criticou aqui o jornalista justiceiro praticado pelo CQC, da TV Bandeirantes. O Pânico não fica atrás, com seu humor abutre. Ambos, mestres no ofício de fazer macaquice para vender lâmina de barbear.
A caserna não está nada satisfeita com a próxima novela do SBT, que estreia em 5 de abril.Segundo a emissora, Amor e Revolução será “a primeira novela a retratar toda a realidade da ditadura militar no Brasil”. Pelas cenas que vazaram na internet, a trama não mostrará os militares apenas como os bandidos da história. Eles serão monstros fardados que sequestram crianças, torturam e matam a sangue frio.
O alarme soou no blog Coturno Noturno, um watchdog da extrema direita (civil e sobretudo militar) com mais de 10 mil visitantes únicos por dia, em média. “Vocês [militares], suas famílias, seus filhos, seus netos, serão tratados como cães. Serão olhados como bandidos. Como assassinos. Como a escória deste país”, escreveu no último dia 10 o editor do blog, que assina apenas como “coronel”. “A história está sendo reescrita”, afirmou ele, não perdendo a deixa para criticar a futura Comissão da Verdade e a contratação do ex-deputado petista e ex-guerrilheiro José Genoino como assessor do Ministério da Defesa.
O “coronel” não ficou falando sozinho. Até ontem à noite, havia 69 comentários ao post, todos solidários com seu desabafo.
Uma coisa é fato: o SBT vai escancarar os podres do porões da ditadura. No material que vazou na internet, há torturas em paus de arara e cadeiras do dragão (VÍDEOS 1 e 3, abaixo) e abuso sexual de presos (VÍDEO 2).
Já a esquerda armada deve ser pintada em tons amenos. No trailer, os guerrilheiros aparecem como heróis, gente “movida à esperança”, que prega “a revolução do bem” e que, se saca a arma e atira, é apenas para ferir o inimigo (VÍDEO 3).
E a presidente Dilma Rousseff, que tudo tem feito para se livrar dos (muitos e graves) pepinos verde-oliva de sua gestão, não deve escapar da polêmica. Sua trajetória servirá de inspiração para a personagem Jandira (Lúcia Veríssimo), uma guerrilheira que é presa e torturada pela repressão (VÍDEO 3).
A trilha sonora do trailer (VÍDEO 3) é um soco no estômago. Inclui Apesar de você, Cálice e Roda Viva, de Chico Buarque, e Opinião, de Zé Keti.
A trama do SBT influirá na realidade brasileira? As Forças Armadas aceitarão ser enxovalhados ao vivo e a cores para todo o Brasil? A parcela da sociedade que busca punição para torturadores vai aproveitar o previsível clima de comoção da novela para buscar a revisão da Lei da Anistia? Veja a seguir, nos próximos capítulos dessa novela.