[NOTÍCIAS DE PORTUGAL – 3] Diário Digital de Lisboa elogia Boa Ventura!/A Última Pepita

Leia abaixo reportagem publicada hoje no Diário Digitalprincipal jornal eletrônico de Portugal sobre A Última Pepita, título da versão portuguesa de Boa Ventura!.

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A cobiça dos porgugueses construiu o Brasil

Por Pedro Justino Alves, para o Diário Digital (6 de novembro de 2012)

Historicamente, o descobrimento do Brasil aconteceu em 1500, mas na verdade o país foi descoberto cerca de 200 anos depois, quando finalmente as autoridades portuguesas em Lisboa receberam uma ambicionada carta, que comunicava que havia ouro na colónia. «A Última Pepita – Os portugueses e a corrida ao ouro do Brasil», do brasileiro Lucas Figueiredo (Marcador), conta essa incrível saga, os 200 anos antes do achado e o século seguinte (quando a exploração terminou), numa obra que explica muito da história portuguesa que não encontramos nos nossos livros de… História.

Mortes, desbravadores, calúnias, amizades desfeitas, traições, pura aventura, ignorância, alianças estratégicas, entrega, coragem,… «A Última Pepita – Os portugueses e a corrida ao ouro do Brasil» abarca tudo isso e muito mais. Em cerca de 200 páginas Lucas Figueiredo reuniu cerca de 300 anos da história portuguesa e, consequentemente, brasileira. O autor, no entanto, refere uma palavra para resumir a sua obra, a palavra que moveu uma época: C-O-B-I-Ç-A.

«A cobiça foi e continua a ser o motor da humanidade. Os portugueses desbravaram o Mundo porque precisavam de encontrar tesouros. Quando chegam ao «shopping center» que era na altura a Índia, precisavam de ouro para comprar as especiarias e mercadorias. Mas a verdade é que não havia ouro no mercado. E foi precisamente o ouro que fez com que Portugal alcançasse o sucesso além-mar.»

Lucas Figueiredo defende que o ouro foi determinante na construção do Brasil, sendo deste modo o alicerce do país.

«Foi a cobiça que fez com que Portugal construísse uma nação. O ouro obrigou os portugueses a entrarem no interior do país, ocupou o sertão, uma região totalmente inóspita na altura da colonização. A corrida ao ouro, que chega até o Norte, permitiu juntar o Nordeste ao Sudeste e ao Sul, determinou o primeiro encontro do Brasil. A ocupação da colónia motivada pelo ouro fez com que o Brasil se alastrasse muito além do que supostamente estava acordado com os espanhóis. O Brasil, na época da colonização, era para terminar em Brasília. Se hoje o Brasil é o que é deve precisamente a esse processo de cobiça. Portugal não tinha um projecto de país para o Brasil, mas acabou por ser responsável por uma grande obra. O ouro determinou o que é hoje o Brasil. Se compararmos com o caso espanhol, o período de colonização português foi muito mais bem-sucedido. Os 200 anos para descobrir o ouro e os 100 anos de exploração foram a base do país, de um país continental.»

Em «A Última Pepita – Os portugueses e a corrida ao ouro do Brasil» Lucas Figueiredo revela os anseios e objectivos dos reis portugueses em relação às terras americanas. Da desilusão de não terem encontrado de imediato ouro, como aconteceu com Espanha nas suas colónias, até ao dia em que tudo mudou, com Portugal a ser responsável por uma autêntica revolução mundial no século seguinte, ajudando «a fortalecer o nascente Capitalismo», um sistema que poucos anos depois dominaria o mundo com o fim do Absolutismo.

Dos vários reis, Lucas Figueredo considera D. João V o mais excêntrico, mas também «egoísta, vaidoso, perdulário, mulherengo, obsceno, despótico, intolerante. Muito mais que tudo isso, era um monarca de sorte». Devido ao ouro do Brasil, transforma-se no monarca mais influente do Mundo, «não um pobre como os seus antecessores». Rico, começa a mostrar aos seus pares o luxo que o metal proporciona, mas também as bizarrices. D. João V procura igualar-se em termos de majestosidade ao Rei de França, ignorando por completo outros deveres políticos e económicos. A Corte vive o seu momento de esplendor, ao mesmo tempo que demonstra a sua parca visão futura. Na verdade, D. João V e os seus sucessores esqueceram que o ouro, um dia, chegaria ao fim. E, em vez de se precaverem, desbarataram o que tinham, menosprezando a indústria e a agricultura – ao contrário do que fizeram os ingleses com a sua Revolução Industrial.

«O dinheiro significava para os ingleses muito mais que o acesso ao luxo ou a garantia do ócio. Para eles, o tesouro de uma nação não era medido pela quantidade de metal precioso que ela conseguia produzir ou acumular, mas pelo que, a partir do dinheiro, ela conseguia criar (…) Contudo, depois da descoberta do ouro, completou ele (Adam Smith, em «A riqueza das nações»), os portugueses deixaram as indústrias definhar, acreditando que poderiam comprar tudo o que quisessem, já que eram donos de uma terra onde o dinheiro literalmente brotava do chão. Tolice, pregava o economista. O ouro por si só não tornava ninguém ou nenhum país ricos. «Dinheiro é instrumento», dizia», escreve Lucas Fugueiredo em «A Última Pepita – Os portugueses e a corrida ao ouro do Brasil».

Esta questão do que fazer com o ouro é uma das questões fundamentais do Brasil nos dias de hoje, «mas com o petróleo. O que devemos fazer com o petróleo? Esta é a pergunta que nos estamos a fazer», refere Lucas Figueiredo, que insiste que o erro de Portugal foi gastar o dinheiro do ouro em jóias, monumentos e o luxo. «Portugal abdicou da sua agricultura, da sua indústria, pois acreditava que ouro era eterno, assim como o petróleo. A cobiça deve ser controlada.»

No total, a cobiça foi responsável pela extracção de 1000 toneladas de ouro do Brasil, com 800 quilos a serem distribuídos pela Europa; em 100 anos, a cobiça fez com que o Brasil passasse de 300 mil habitantes para 3,6 milhões de pessoas; a cobiça obrigou a utilização directa de 600 mil escravos, que deixaram África, «a mutilação de um continente»; no final do século XVII e início do XVIII, a cobiça obrigou a Coroa portuguesa a decretar leis que impediam a ida ao Brasil, já que as regiões do Minho, por exemplo, estavam despovoadas, com pessoas insuficientes para cultivar a terra, por exemplo; a cobiça permitiu que o interior do Brasil fosse ocupado, sendo por isso mais complicada a invasão de estrangeiros; a cobiça, a cobiça, a cobiça…

«Foi precisamente essa cobiça que revolucionou o Mundo em todos os aspectos, tanto a nível social como económico, cultural e político. Mas o que impressiona é que não há muito escrito sobre a Corrida ao Ouro do Brasil, que é uma história fascinante, cheia de personagens riquíssimos. Se olharmos para a Corrida ao Ouro norte-americana, com os seus filmes e livros, é uma autêntica desilusão olhar para a brasileira. Procurei no livro dar voz às centenas de pessoas que estavam ao lado da História mas que são responsáveis por ela. A Corrida ao Ouro no Brasil é uma história cinematográfica e nos livros de História isso não aparece, é tudo revelado de forma mecânica, sem informação dos seus protagonistas, os seus dramas, as suas angústias, as suas ambições.»

E a verdade é que Lucas Figueiredo consegue humanizar um período rico da História portuguesa e brasileira e transmitir todo um período preenchido de incertezas. Na realidade, lemos «A Última Pepita – Os portugueses e a corrida ao ouro do Brasil» como uma obra de aventura, o melhor modo de ler um livro de História. Apesar dos factos e pessoas serem todos reais, acabamos por nos deixar levar como se tratasse de uma obra de ficção. E esse é o principal mérito desta obra editada pela Marcador, o ritmo que o autor consegue imprimir a sua escrita.

Por isso, não é por acaso que o livro alcançou um enorme sucesso no Brasil, ganhando inclusive o Prémio Jabuti, o principal prémio literário do país. Lucas Figueiredo acredita que esse êxito deve-se também as mudanças que o país atravessa neste momento.

«Hoje o brasileiro vai a uma livraria e gasta 15 euros num livro de História, isso não acontecia antes. Estamos finalmente a resolver um período complicado da nossa história e estamos a começar a respirar. Abandonámos o espírito vira-lata e nos vemos como actores principais. Lula conseguiu tirar, por exemplo, 40 milhões de pessoas da pobreza, isso é a população de um país médio da Europa. Hoje o brasileiro já não olha apenas para o presente, para o agora, tem mais tempo para olhar o seu passado.»

Lucas Figueiredo revela que recebe com alguma frequência mails de leitores portugueses que agradecem o seu livro, referindo que descobriram uma nova História do seu próprio país. «Mas também escrevem sobre algumas das pessoas que aparecem no livro.» Mails que enchem evidentemente o autor de orgulho. Um orgulho mais valioso que o… ouro!

6 Comentários

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6 Respostas para “[NOTÍCIAS DE PORTUGAL – 3] Diário Digital de Lisboa elogia Boa Ventura!/A Última Pepita

  1. Diogo Martins

    Caro Lucas, parabéns! Escrevo de Portugal, conheci a sua obra no programa Ler Mais, Ler Melhor. Fiquei interessado e vou procurar o(s) seu(s) livro(s)!
    O Brasil e Portugal têm uma relação profunda, mas também cheia de incompreensões e maledicências – de ambas as partes. Cada pessoa tem direito à sua opinião, pena é que nem sempre seja baseada num conhecimento suficiente. Espero que a sua obra contribua para melhorar essas atitudes!
    Gostaria apenas de um esclarecimento sobre esta passagem do texto, que penso pertencer ao livro. Quando escreve “Se compararmos com o caso espanhol, o período de colonização português foi muito mais bem-sucedido”, o que significa exactamente esse maior sucesso? Uma grande diferença foi que Espanha teve o ouro disponível de imediato, já explorado (e valorizado) pelas civilizações existentes na parte da América que encontrou.
    Obrigado e continuação de sucesso!

    • Caro Diogo
      Na leitura de A Última Pepita, você verá Portugal e a sua corrida ao ouro deixram um grande legado ao Brasil: o próprio Brasil… com suas dimensões continentais (que vão muito além do que havia sido acordado entre Portugal e Espanha no Tratado de Tordesilhas), com seu eixo geopolítico voltado para a região centro-sul, com seu interior ocupado…
      Se você comparar hoje o Brasil com os países colonizados pela Espanha na América do Sul verá que a obra portuguesa foi melhor que a espanhola.
      Um grande abraço.
      Lucas Figueiredo

  2. Katia Becho

    Sensacional, Lucas! Chega a ser emocionante o entusiasmo dos portugueses com seu livro.
    Escrevendo sobre a nossa história, vc vem também ajudando a fazê-la. Parabéns e obrigada.

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