PT insiste na parceria Caracu com Aécio

Sem medo de ser infelizzzzzz, o PT é hoje o curupira da política: ninguém sabe se anda para trás ou para frente

Se algum dia Aécio Neves alcançar a tão almejada Presidência da República, poderá dizer: “apesar de José Serra, mas com o apoio do PT, cheguei até aqui”.

Não há quem não reconheça que Aécio é hoje o principal nome da oposição para 2014, e não só para 2014. Talvez também para 2018, 2022, 2026… Aécio tem cacife (domina o segundo colégio eleitoral do país), tem carisma, tem habilidade política, tem apoio do empresariado, tem apoio da mídia, tem apoio da Força Sindical e tem alianças consistentes fora do eixo PT-PSDB.

Aécio, portanto, é um forte adversário do projeto político do PT, certo? Sim… Quer dizer, não… Quer dizer, talvez.

Nos últimos dez anos, a fim de alimentar a oposição interna a José Serra no PSDB, o PT, de forma geral, salvo uma ou outra exceção em Minas, evitou chatear Aécio Neves. Fez mais: abriu espaço para que o tucano crescesse.

Faça um teste. Tente achar no Google uma crítica mais pesada a Aécio Neves feita por um cacique petista de projeção nacional. Não há. Lula? Dilma? José Dirceu? Nenhum deles se lançou ao sagrado exercício político de desconstruir o adversário (a recíproca, contudo, como também mostra o Google, não é verdadeira).

O ápice da relação de boa vizinhança do PT com Aécio se deu em 2008. Naquele ano, o Partido dos Trabalhadores, que administrava Belo Horizonte havia 16 anos, decidiu quebrar a risca e não lançar candidato próprio à prefeitura, uma das mais importantes e estratégicas do país. De bom grado, o PT desceu da cadeira e passou a apoiar a chapa encabeçada por Márcio Lacerda (PSB), secretário do governo Aécio e afilhado político do tucano. A aliança ficaria conhecida como parceria Caracu (Aécio, é óbvio, entrou com a cara…).

Eleito, Márcio Lacerda fez o previsível. Nos últimos três anos, trabalhou pelo projeto de Aécio e pelo enfraquecimento do PT mineiro. O último ato dessa comédia se deu no início do mês, quando Lacerda, numa briga pessoal, demitiu todos os funcionários do gabinete de seu vice, o petista Roberto Carvalho.

Ano que vem, como todos sabem, tem eleição para prefeito. Há, por certo, muitos petistas mineiros que desejam romper a exótica aliança PSDB-PT em Belo Horizonte. A estratégia tem coerência, não se pode negar, já que na prática a aliança só favoreceu Aécio e o PSDB, enquanto o PT diminuiu. Além disso, em 2014, se o script político se confirmar, Aécio estará do outro lado do ringue contra Dilma Rousseff.

Por que então, catzzo!, o PT deveria fazer o jogo de Aécio? A vida tem seus mistérios.

Aqueles que, dentro do PT de Minas, trabalham pelo fim da aliança esbarram na objeção daquele que, no PT, é o padrinho da parceria Caracu, Fernando Pimentel.

Atual ministro do Desenvolvimento, Pimentel foi o último prefeito petista de Belo Horizonte. Se depender dele, talvez seja também o derradeiro. Pimentel joga pela reeleição de Márcio Lacerda. Se eleito, Lacerda quiçá venha a preencher, daqui a três anos, o (ainda vago) posto de candidato de Aécio ao governo de Minas. Seria certamente uma candidatura forte, talvez forte o suficiente para mais uma vez barrar o sonho do PT, nunca realizado, de conquistar o Palácio da Liberdade.

O curioso nessa história é que, ao patrocinar a reedição da parceria Caracu, Pimentel joga contra si próprio, já que também é nome forte para a eleição ao Governo de Minas em 2014.

Ontem, a contradição petista em Minas explodiu. Motivo: enquanto as exceções de sempre no raquítico PT mineiro lutam para explorar as fragilidades da herança deixada por Aécio no Estado (piso salarial mais baixo do país para o professorado, dependência excessiva das commodities num momento de crise mundial na economia, dívidas imensas que engessam a capacidade de investimento, mordaça na imprensa…), a ala de Fernando Pimentel apostou mais uma vez na parceria Caracu.

Aliado de Pimentel e presidente do PT de Minas, o deputado federal Reginaldo Lopes se reuniu ontem publicamente com Antonio Anastasia (PSDB), governador de Minas nascido de uma costela de Aécio, para discutir o que Lopes apelidou de “agenda positiva” e “convergência programática”. O resultado das confabulações deveria ter sido levado ainda hoje para Brasília. Adivinhem para quem? Fernando Pimentel.

Dirão os envolvidos que a “convergência programática” e a “agenda positiva” atende aos interesses de Minas. Na Calábria brasileira, desde a Inconfidência, é sempre assim. À luz do dia, evoca-se aos brados o nome de Minas. De madrugada, aos sussurros, costuram-se conspirações que atendem unicamente a interesses privados.

A busca do presidente do PT de Minas por uma “convergência programática” com o PSDB despertou a ira de petistas autênticos – chamemo-los assim para efeito de diferenciação (quem diria que um dia o PT precisaria ser classificado com a mesma escala de elasticidade de caráter do PMDB?). Via Twitter, o deputado Rogério Correia, autêntico que lidera o bloco anti-Aécio na Assembléia Legislativa do Estado, batizado de Minas Sem Censura, chamou Reginaldo Lopes de “traidor” e de aliado do PSDB e pediu que ele fosse afastado da presidência do PT mineiro. O protesto, seguido por outros autênticos, dificilmente terá efeito prático, já que a ala não tem força nas instâncias do PT nacional para peitar o ministro Fernando Pimentel.

Por que Pimentel fortalece os adversários de seu partido na capital mineira? Por que o PT nacional infla Aécio? Não há explicação lógica. Lá no fundo, lá no fundo, bem lá no fundo… Não há nada lá no fundo. A parceria Caracu é o que parece ser.

Minas tem 14,5 milhões de eleitores (10,7% do total nacional). Numa eleição presidencial apertada, o colégio eleitoral mineiro pode muito bem definir a parada. O PT parece não se importar com isso. Que assim seja. Mas não custa lembrar o ditado espanhol: cría cuervos y te sacarán los ojos.

21 Comentários

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21 Respostas para “PT insiste na parceria Caracu com Aécio

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  4. Shyrlei

    Deus! Socoooorro, se for assim em quem vamos votar? Em PSDB nenhum professor vota, né?
    Espero que alguem de bom senso faça alguma coisa para evitar isso!

  5. Gustavo

    Ganha a próxima eleição quem conseguir os votos dos evangélicos.
    O PT mineiro deveria fortalecer o PSOL, que é um partido de destaque nos locais onde atua e consegue eleger representantes. Lembra o PT em seu início. E o PT, em seu início, era um excelente partido.

  6. Filipe

    Esse Reginaldo Lopes é um safado, pilantra…
    O jornalista Geraldo Elísio denunciou que o grupo do Pimentel teria fraudado as prévias em 2010 para prejudicar o Patrus e beneficiar o Pimentel para apoiar o Hélio Costa.
    Na época, Patrus estava na frente na apuração, de uma hora pra outra ela foi interrompida e apareceram com Pimentel como vencedor.

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  8. Jussara Maria Pieruccini

    Interessante chamar as instâncias do PT de estâncias! Lembra coronelismo, peleguismo e outros ismos.

  9. Arthur

    Acho que uma coisa é clara: os partidos brasileiros são liderados por cacifes e os eleitos por esses são profissionais da politica, ou seja, estão mamando lá tem muito tempo. A única coisa que importa a eles é continuar mamando. Enquanto em São Paulo os partidos parecem com clubinhos em que um luta com o outro para continuar mamando em Minas isso não acontece. Aécio não é adversário de Pimentel. São todos representantes das elites mineiras. Aqui o partido não importa muito. Aliás, quando o Lucas Figueiredo fala que Pimentel está enfraquecendo o proprio partido, não se esqueça de uma coisa: Serra reclamou que Aécio não estava se esforçando o suficiente para virar a campanha em Minas nas ultimas eleições. Assim Aécio não prejudica os interesses do PT em nivel nacional e o Pt não atrapalha os interesses de Aécio em nivel estadual. Aécio é forte em Minas, tem a imprensa ao seu lado em Minas. Porém, em nivel nacional a coisa é diferente. Tem teto de vidro muita coisa pode sair de baixo do tapete se ele se eleger a presidente. Relembre da Roseana Sarney quando concorria a presidência. Dessa forma Aécio continua Presidente de Minas. Aécio estadual e PT Nacional continuam cada um com com seu feudo. Um arruma o jogo para o outro na sua fazenda!

  10. Bruno Duarte

    Lucas,
    Seu artigo me parece revelador do quanto a dinâmica política atende preocupa-se mais com a manutenção ou a conquista do poder, do que com as demandas da sociedade. Mas, o jogo não pode estar desvinculado da realidade e por isso os discursos, o teatro, precisa encenar um motivo social. Na semana passada, o PT votou em peso contra a Lei do Subsídio no sistema de remuneração do professor estadual. O argumento era claro, denunciava o quanto o subsídio pode significar uma desvalorização futura e progressiva da carreira do professor. Estranho que, mesmo após essas denúncias e a vitória do subsídio na Assembleia, o presidente do PT Mineiro se encontre com Anastasia para discutir uma “agenda positiva”…
    Todos aqueles discursos na Assembleia não passaram de encenação?!? Parece até que foi de caso pensado: “o subsídio é aprovado de qualquer forma, mas pelo menos ganhamos o apoio dos professores”, deve ter sido o raciocínio petista. Pura encenação para se apresentar do lado da sociedade, enquanto o real objetivo é o poder.

    Como você disse: “na Calábria brasileira, desde a Inconfidência, é sempre assim. À luz do dia, evoca-se aos brados o nome de Minas. De madrugada, aos sussurros, costuram-se conspirações que atendem unicamente a interesses privados”.

  11. Humberto Guimarães

    Excelente análise Figueiredo. Resumiu em um ótimo artigo a realidade do projeto Aécio. Mas há alguma coisa, ainda não “descoberta” a surgir com o tempo para justificar os últimos atos do PT mineiro, na figura do Pimentel. Por que será que ele, que tudo fez para a aliança com o PSDB, talvez pensando que seria apoiado pelo Aécio para o Governo do Estado ou para o Senado, e não o foi – acabou sendo duplamente derrotado – insiste nessa parceria? Para ser derrotado de novo, caso Aécio aposte em Marcio Lacerda para o Governo?

  12. Carlos

    Não deixe de citar o fato de que, nas eleições passadas, o Aécio fez questão de apoiar candidatos ao Senado que eram concorrentes do Pimentel. Na Prefeitura de Belo Horizonte, Lacerda fez questão de esvaziar os melhores projetos de administrações anteriores do PT. A única explicação para a obseçssão de Pimentel é o fato de ele ser um PSDBista infiltrado.

  13. Ernandes Jose Silva

    Caros, amigos vamos deixar de hipocrisia!!!!
    Esta discussão só deixará os políticos com mais sede pelo poder.
    Já basta a vergonha de termos uma assembleia cheia de políticos que nada fazem pelos cidadãos de Belo Horizonte

  14. Gabriel Silveira

    Lucas, parabéns pelo artigo, muito bom. Porém, gostaria de comentar alguns pontos.

    1) Achei o nome da parceria PT-PSDB desagradável. Esse vocábulo não condiz com o nível de seu trabalho aqui no blog e acredito que também com o seu nível de educação. A 1ª vez que escutei esse termo foi de um empresário em uma reunião em que estavam presentes pessoas educadas e houve constrangimento. Entretanto, ainda não consegui pensar em um termo que reproduza a essência da parceria PT-PSDB para sugerir a troca. Além disto, fazer publicidade para cerveja não é politicamente correto, ainda mais gratuitamente.

    2) Você não teria subestimado o papel que o PSB desempenha e desempenhará no cenário nacional nas próximas eleições? (O PSB é aliado do PT nacionalmente e não do PSDB e o nome de Eduardo Campos vem ganhando força e sobrepondo o de Ciro Gomes).

    3) Fernando Pimentel deve avaliar que Roberto Carvalho não tem capacidade para ser um bom prefeito. Haveria, portanto, uma visão cidadã e imparcial do ministro ao apoiar Lacerda, que é apenas razoável prefeito.

    4) Há carência de bons nomes para nossa prefeitura, imagine os nomes que irão surgir na eleição. Hélio Costa ou Léo Quintão, Léo Burguês (lamentável termos um vereador e presidente de câmara municipal como esse) e Eros Biondini.

    5) Alckimin não será presa fácil para Neves na escolha do PSDB. No último momento Serra apoiará Geraldo e não Aécio. O pensamento de José é tão velho quanto à serra, “nem eu, nem Aécio”.

    6) O PT deve acreditar que uma campanha contra Aécio é mais fácil de ser vencida do que contra outros candidatos, tendo em vista, que o próprio Aécio não cuida de sua imagem real (não a esculpida pelos milhões investidos em publicidade). Uma campanha que aborde a questão das drogas pode fazer a diferença.

    • Caro Gabriel
      Agradeço e comento suas observações:
      1) O “vocábulo” que define a parceria PT-PSDB, como vc bem notou, acabou pegando na boca do povo. Fazer o que? Ademais, ainda que chula, a definição é precisa;
      2) O PSB cresce, é bem verdade, mas ainda é uma esfinge para 2014. Poderá seguir com o PT, poderá seguir com Aécio, poderá seguir pelas próprias pernas, com Eduardo Campos. Em Minas, Aécio faz o que pode para atrair o PSB, mimando Márcio Lacerda e elogiando Eduardo Cammpos aos quatro ventos.
      3) Pimentel faz política de terra arrasada em Minas. Para abafar a liderança popular de Patrus Ananias, engessa o PT. A prática de Pimentel nada tem a ver com avaliação técnica de competência, mas sim com a sede pelo poder;
      4) Faltam nomes, certamente. Da parte de Pimentel, ele nada fez para criar lideranças que pudessem sucedê-lo. Ainda assim, nomes há. No PT, cito, de bate-pronto, André Quintão, sério, honesto, articulado e intelectualmente preparado;
      5) Pode ser. Mas hoje o nome de Aécio é o mais forte;
      6) Aécio não é um candidato que se deva menosprezar. Ao contrário: ainda que com pontos fracos, tem substância. E não nos enganemos: uma fatia razoável dos setores conservadores (econômico, político, social, religioso…) abraçaria Aécio sem grandes problemas de consciência.

  15. A análise está muito boa. Infelizmente.

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  17. Anônimo

    UNANIMIDADE? LACERDA QUASE PERDEU A ELEIÇÃO COM APOIO DO PSDB E DA BANDA AECISTA DO PT

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