A “faxina” no governo federal existe de fato? Se existe, a presidente Dilma faz a “faxina” porque gosta ou porque precisa? Enquanto a imprensa nacional e internacional tentam responder essas perguntas, Dilma vai surfando na onda da “faxina”.
Na semana passada, pela primeira vez, ela usou o termo num evento público. “A verdadeira faxina que esse país tem de fazer (é) a faxina contra a miséria”, disse ela. Em tempos em que os marqueteiros políticos dão as cartas, obviamente a fala da presidente foi calculadíssima, ainda mais porque não se tratava de um evento político qualquer. Dilma estava acompanhada de dois governadores do PSDB – Geraldo Alckmin (SP) e Antonio Anastasia (MG) – e do ex-presidente e tucano-mor Fernando Henrique Cardoso. Era uma agenda positiva (lançamento do plano Brasil sem Miséria) após semanas de crise política na base aliada.
É fato: Dilma resolveu encarar o personagem da “faxineira da República”. No que vai dar, ninguém sabe. A classe média, tão desejada, certamente vai adorar. O PT lulista e o PMDB, nem tanto. Não que corram grandes riscos de serem varridos, mas prefeririam não ter de fazer o papel de “tira mau” e deixar para Dilma o papel de “tira bonzinho”.
Outra possibilidade – pequena, mas não desprezível – é ela gostar tanto do personagem que resolva assumi-lo não como um instrumento de marketing, mas como ação política. Uma autoridade que trabalhou com Dilma no Ministério de Minas e Energia, no governo Lula, me disse que ela cabe muito bem no papel da “faxineira da República”. Dia sim e outro também, a então ministra ligava para a autoridade e dava o comando: “demita fulano, demita sicrano!”. “Dilma tem vocação predadora”, disse a minha fonte, que afirma que o ministério teria ficado às moscas se ele tivesse acionado a guilhotina todas as vezes que Dilma ordenou. Naquele época, porém, Dilma era ministra. Hoje, é presidente.
Até onde vai a “faxina” de Dilma, só o tempo dirá.
(Atualização, 22/08/11, 12h50 – Relendo agora o post, escrito na madrugada, vejo que não fui feliz na alegoria do “tira mau” e do “tira bonzinho”. Melhor seria “vilão” e “mocinho”.)