Abaixo, a resenha crítica de Boa Ventura! publicada pelo Café História.
xxx
O jornalista Lucas Figueiredo, ganhador de três prêmios Esso, tornou-se conhecido dos historiadores quando publicou “Morcegos Negros” (2000) e “Ministério do Silêncio” (2005), obras que tocavam em vários temas sensíveis à história do Brasil contemporâneo. Em 2011, Figueiredo lança “Boa Ventura! A Corrida do outro no Brasil (1697-1810)”, também na área da história, mas que aborda um período que retoma a corrida do outro no Brasil, entre os séculos XVII e XIX.
Publicado pela Editora Record, “Boa Ventura” conta a história daquilo que Figueiredo chama de “obsessão lusitana” por enriquecimento fácil em sua colônia na América. A corrida pelo outro assumiu contornos dramáticos no Brasil e em Portugal. Chamou a atenção de potências adversárias, como Espanha e França. Segundo conta Figueiredo, em 1703, o embaixador francês em Lisboa informou da seguinte forma a Luís XIV que estava acontecendo nos domínios portugueses no Atlântico: “(…) O grande número de pessoas que vai à procura do ouro [no Brasil] faz com que reste menos [pessoas] para trabalhar no cultivo de terras (…)”. A cada ano, sublinha o autor, de 8 a 10 mil portugueses desembarcavam na colônia. Em sessenta anos, foram mais de 600 mil pessoas.
Tamanha ambição, no entanto, significou trabalho fácil para os empreendedores do ouro no século XVII, XVIII e XIX. O empreendedorismo destes milhares imigrantes e mesmo dos nativos protagonizaram uma corrida que transformou a vida na colônia, protegeu as fronteiras do Brasil e até mesmo desenvolveu setores como a agricultura e as artes. Para tanto, o livro recuperou a trajetória de homens que investiram suas vidas na caça ao eldorado. É o caso de Sebastião de Castro Caldas, administrador colonial português que em 1697, após constatar a existência de ouro manifestada em cerca de 20 ribeiros, escreveu ao rei de forma entusiasmada que o “Brasil foi de novo descoberto”. Mas este é apenas um dos que foram tocados pela febre do ouro. O livro de Figueiredo traz ainda muitos outros. Em suma, isso demonstra o quanto o metalismo na colônia foi um fator de ordem política e social, não apenas afetando a ordem econômica.
O livro possui bom acabamento, impresso em papel anti-reflexo, e também boa editoração. Conta com muitas imagens, capítulos curtos e o que é bastante raro em livros produzidos por jornalistas: a indicação de fontes, obras e arquivos históricos. Mas por se tratar justamente de uma obra feita por jornalista, é preciso fazer algumas ponderações. “Boa Ventura!” não é se pretende uma obra acadêmica. Não faz novas revelações ou muito menos realiza discussões historiográficas. O fato não descredencia de forma alguma o livro de Figueiredo. A obra traz uma narrativa envolvente, agradável e instigante. E descontado algumas frases clichês (que por vezes trivializam a história), o livro pode agradar a muitos públicos: desde o estudante de graduação até o leitor não-acadêmico, mas que se interessa por história do Brasil.