Por que Lula precisa que empresários lhe dêem um palacete de presente?

Palacete Linneo de Paula Machado

O Lula pós-governo Lula vem sendo patrulhado por uma parcela da imprensa que preferia que o ex-presidente se exilasse na Sibéria e deixasse a vida pública. Ontem mesmo, a Folha de S.Paulo noticiou que Lula, em viagem ao Rio de Janeiro, encontrava-se hospedado num hotel de “alto padrão”. Garanto que a Folha se absteria de focar no detalhe se o hóspede em questão fosse Fernando Henrique Cardoso, Itamar, Fernando Collor ou Sarney, para ficar apenas nos quatro antecessores de Lula.

Mas se a Folha errou ontem, ela acerta hoje ao informar que o petista busca um “mecenas” que compre e ceda ao futuro instituto Lula o Palacete Linneo de Paula Machado, no Rio. Instalado num terreno de 8 mil metros quadrados em Botafogo, o casarão em estilo francês, do início do século XX, é de fato um imóvel soberbo – e caro. Recentemente, o palacete foi alvo de uma negociação fracassada na casa dos R$ 10 milhões.

Lula não deve incorrer no erro de Fernando Henrique, que, terminado o governo, passou a sacola no empresariado e numa estatal paulista, a Sabesp, para montar seu milionário instituto, o iFHC. É óbvio que Lula tem direito de montar seu instituto, e que este deve ter uma sede e estrutura dignas de um ex-presidente. Não é ético, contudo, que Lula recorra a empresários para fazê-lo.

No poder, o petista errou ao dar proteger a aliados que mantinham relações promíscuas com o empresariado. Foi, por exemplo, o que aconteceu no caso do mensalão, que manchou a história do PT e em relação ao qual Lula nada fez para purgar os pecados do partido. Agora, fora do Planalto, Lula sinaliza não ter mudado de postura. Mais uma vez, embola o público com o privado – um câncer que contamina a sociedade brasileira e que, para ser extirpado, precisa em primeiro lugar de bons exemplos.