No dia 22 de dezembro, na Argentina, foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato de 30 presos políticos o general Jorge Videla, 85 anos, ex-ditador e principal mentor da repressão que matou 30 mil pessoas naquele país entre 1976 e 1983.
Cinco dias depois, no Brasil, o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, 77 anos, registrou o fato no seu site, A Verdade Sufocada. Por cima de uma foto de Videla, Ustra escreveu “heroi”. O general, na visão do coronel, faz parte da safra dos militares latino-americanos que tomou o poder à força para, também na base da força, fincar a bandeira da democracia na região. Para Ustra, Videla é uma vítima da “virulenta campanha” comunista inaugurada com a redemocrazitação da América Latina.
Ustra comandou o DOI-Codi de São Paulo de setembro de 1970 a janeiro de 1974. Para que não fosse reconhecido pelos presos políticos, usava um codinome: doutor Tibiriçá. No período, 40 prisioneiros que estavam sob sua guarda foram mortos ou desapareceram. Outros 502 denunciaram terem sido vítimas de torturas – quatro delas afirmaram que as sessões de suplício foram comendadas pessoalmente pelo doutor Tibiriça.
Ustra vive em Brasília. Mora numa confortável casa no Lago Norte e sobrevive dignamente com sua pensão de coronel do Exército. Passa boa parte do tempo na internet, a louvar seus pares, como Videla, e a achincalhar “comunistas”, como Dilma Rousseff. Sua ficha militar contém 59 elogios (entre eles, “oficial de elevadas qualidades morais”, “de fino trato”, “de tranquilidade interior absoluta”, “responsável”, “leal”, “coerente em seus procedimentos”, “acendrado espírito de dever”, “equilibrado”, “disciplinado”, “excepcionais qualidades de caráter”, “educado” e “humano”).
Há décadas, familiares das vítimas de Ustra tentam levá-lo à cadeia (ele e outros). Agem com o respaldo de membros do Ministério Público que defende que a lei da Anistia não pode ser aplicada em casos como o de Ustra, por uma razão: os seqüestros e desaparecimentos de presos políticos ocorridos nos anos 1960 e 1970 são crimes ainda em andamento, por que insolúveis; a ocultação dos cadáveres, portanto, é uma ação que perdura ainda hoje.
A Argentina já acerta contas com sua História. O Brasil ainda não.
Ótimo post.
Já tinha até me esquecido da existência deste Coronel Ustra.
Obrigada por nos lembrar.
Abçs.